James McCartney ao vivo

Ontem fomos assistir ao show de James McCartney no Barfly, em Camden Town.
Barfly é um pub bem charmoso, que possui no andar de cima uma sala especial, com um palco para pequenos shows. Calculo que, bem acomodados (todos de pé), o salão pode receber até umas 80 pessoas. O serviço de bar funcionando, possibilitou tomarmos nosso pint enquanto aguardávamos o início da apresentação. E tivemos que esperar bastante… A abertura da sala de shows estava programada para as 19h mas o show de James só começou às 22h.

Após uma curta apresentação de Ben Goddard, uma banda iniciante (com boas canções, por sinal…), entram James McCartney e seu grupo.

Ben Goddard e sua banda

James tem músicos de apoio bastante bons, particularmente o baterista. As versões ao vivo de suas músicas são carregadas de um peso bem maior do que as gravações oficialmente lançadas. Talvez ele queira se distanciar das inevitáveis comparações com o pai, tornando sua performance bem mais heavy.

Em alguns instantes, não dá para negar que nele está presente o sangue do velho Macca. Na ótima canção “I only want to be alone” é difícil imaginar que o refrão não tenha a contribuição do pai. Afinal, como Maurício Kubrusly muitos anos atrás descreveu, Paul faz canções “esparadrapo”: você ouve e ela “gruda” imediatamente. O refrão dessa música tem essa mesma característica.

James se encaminha para também ser um multi-instrumentista – passeia por guitarra, violão e teclado com bastante intimidade.

Falta ainda a James McCartney desenvoltura no palco. Muito tímido e contido, ele no máximo anuncia o título das canções. Nada de sorrisos ou qualquer tipo de interação com a plateia. Nem os nomes dos músicos que o acompanham (e muito bem) são anunciados.

Para dar suporte a sua voz, ainda insegura, a banda poderia proporcionar um apoio de backing vocal, especialmente nas canções mais pesadas.

Mas deve ser muito difícil ser filho de um dos maiores gênios da música de nossos tempos.  James está pagando esse preço, mas acredito que trilhando um caminho correto e seguro. Pequenas apresentações, low profile total.

Um fato, porém, poderia colocar a perder o foco na performance da banda.

Mal iniciado o show entram na platéia Paul, Stella e Mary McCartney, juntos com Rusty Anderson da atual banda de Paul. Muito animados – sobretudo Paul e Stella – logo se fizeram notar, com os “huhus” bem típicos de Paul.

Não há como evitar desviar o olhar do palco em uma situação dessas, especialmente quando estão a menos de dois metros de você…

Huhu!!!!

Assistir ao show de James já seria um prazer enorme. Tendo ao meu lado o velho Macca e suas filhas torna a experiência muito mais que memorável.

Apesar de Stella tomar uma atitude de proteção ao pai, tentando evitar as fotos, consegui algumas para documentar esse momento.

Autografando nosso CD

Macca no O2

Durante meus anos de trabalho dentro de empresas por muitas vezes brinquei com os colegas que o melhor dia da semana era a segunda-feira, contrariando as caras feias normais desses dias. Afinal, a segunda-feira é o dia da semana mais longe da próxima segunda-feira… Os londrinos tiveram nesta segunda-feira uma outra importante razão para concordar comigo: Paul McCartney no O2!


E o velho Macca fez com incrível competência o seu papel.
Show marcado para as 20:00h. Tomamos o trem por volta das 18:00 e duas conexões depois estávamos já no O2, às 18:30h.
Depois de um pequeno lanche com nosso filho Daniel, sem qualquer correria ou afobamento – dentro do complexo que é o O2 há dezenas de restaurantes – fomos para nossos lugares na Arena. Ótimos, bem de frente para o palco.
Enquanto aguardávamos, os telões mostravam uma montagem muito criativa de fotos, desenhos e vídeos sobre a carreira de Paul, tudo com uma trilha sonora especial também de trabalho dele.

Tempo suficiente também para admirar o espaço da Arena e a organização primorosa.

Com pequeno atraso, aproximadamente às 20:20h, entram Paul e sua banda e começa o show: Hello Goodbye.
Quando assistimos à apresentação de Crosby e Nash, comentei a respeito do set list. Neste tipo de show (lugar amplo e para plateias grandes) é inevitável que Paul fixe seus clássicos como repertório indispensável (Let it be, Yesterday, Blackbird, Hey Jude, Lond and Winding Road, Band on the run, Jet, Eleanor Rigby, Live and let die…).

Mas ele incluiu algumas novidades nesta temporada de shows (Junior’s farm, The night before, Come and get it, The Word – All you need is love) e recolocou outras não tão frequentes (I will, Meddley final do Abbey Road), de tal forma que o show ficou maravilhosamente atraente, mesmo para quem já viu o Macca por várias vezes.
A banda é ótima e os anos todos que tem de convívio no palco garantem perfeita unidade. Não são uma banda cover dos Beatles (ou Wings). Paul claramente não deseja isso. Muitas liberdades são tomadas pela banda na execução das canções. Os solos (inclusive os executados pelo próprio Paul), algumas passagens dos vocais e bateria não são os mesmos, propiciando pequenas visões de como Paul encara sua música e de como ele é capaz ainda de se entregar a ela como criador. Paperback writer, I’ve got a feeling, The Word mostram pequenas explorações de formas de interpretação alternativas.

Quanto ao roteiro do show, Paul realmente tem um script definido. Talvez esse seja um dos pontos que mostram seu incrível profissionalismo e uma das razões que conduzem a um show perfeito. A fala de introdução da homenagem a George, a explicação sobre Blackbird, a regência do coro do público no final de Hey Jude poderiam até ser pré-gravadas. Está tudo incorporado a um tipo de charme que tem a sua apresentação. Se ele resolvesse mudar algo relativo a isso tudo, logo viriam comentários do tipo (como diria o saudoso humorista José Vasconcelos): – Ué, ele não fez aquilo! – e então ele continua fazendo, e agradando.
E ainda vou descobrir a razão de, durante o tributo ao George (Something), dezenas de fotos de George serem mostradas nos telões, enquanto no tributo a John (Here today) apenas o planeta Terra permanecer girando no fundo do palco!
Ainda tivemos uma surpresa. Antes de iniciar a apresentação de Get Back, Paul chama um convidado especial: Ron Wood dos Rolling Stones. Ron toca com a banda e participa dos agradecimentos junto com o grupo, ao final do primeiro bis.


Se alguém me pedisse para definir em poucas palavras ou poucos minutos as razões pelas quais eu gosto tanto de Paul McCartney, talvez isto pudesse parecer difícil. Mas eu lhe pediria apenas para ouvir o meddley final do Abbey Road: Golden Slumbers – Carry that weight – The end. Em apenas 5:18 minutos temos, na minha opinião, o melhor resumo da genialidade e versatilidade musical de McCartney. Terno e cândido, grande vocalista, multi-instrumentista, agressivo roqueiro, excepcional arranjador e ótimo letrista:

IN THE END THE LOVE YOU TAKE

IS EQUAL TO THE LOVE YOU MAKE

Thanks Macca

Friar Park

Sábado, dia 25 de novembro, tivemos o enorme prazer de visitar a cidade em que George Harrison morou por mais de 30 anos: Henley-on-Thames.

Placa localizada ao lado de Friar Park

O trem para lá sai da estação de Paddington, e é preciso fazer uma conexão em Twyford. A viagem dura cerca de uma hora. A cidade, às margens do rio Tâmisa, fica a 55 km a oeste de Londres, em Oxfordshire. Embora pequena, é bastante movimentada, com muitas lojas e restaurantes. Tem vários prédios de importância histórica, porque está localizada em um antigo caminho que remonta ao século XII.

Rua central de Henley-on-Thames

Henley-on-Thames é bastante conhecida também por sediar anualmente a competição de remo denominada Henley Royal Regatta.

Gravel Hill, rua que, saindo do centro, leva a Friar Park

Mas uma propriedade, especificamente, atrai muitos turistas como nós para essa cidade: Friar Park, a incrível mansão de George Harrison. Construída aproximadamente em 1875, em estilo neo-gótico, sua entrada fica a cerca de 500 metros do ponto mais central de Henley-on-Thames, na Gravel Hill.

O antigo proprietário da mansão, Sir Frank Crisp, foi homenageado por George na canção Ballad of Sir Frankie Crisp (Let it roll), do álbum All Things Must Pass.

Sabíamos que só conseguiríamos ver a portaria da casa, porque a mansão efetivamente está completamente encoberta pelos imensos jardins que a circundam… mas já valeu a pena. Uma sensação de paz e uma imensa alegria nos foi transmitida por aquele lugar.

Emoção, ao pensar em George cuidando daqueles jardins… compondo e gravando suas canções nos estúdios localizados logo ali… identificados nos discos pela sigla F.P.S.H.O.T. (Friar Park Studio, Henley-on-Thames).


Depois da sessão de fotos na entrada, subimos a Gravel Hill, circundando a propriedade, e alguns metros adiante encontramos uma entrada secundária, a qual também foi fotografada. Nenhum funcionário ou segurança, ninguém por ali… Apenas um casal visitando o local, certamente pelos mesmos motivos.

Prédio na entrada secundária


Passamos um dia muito gostoso em Henley-on-Thames. Um momento único para nós, um verdadeiro “remembrance day” do legado do magnífico artista que foi George Harrison.