Charlotte Mews

Seguindo uma sugestão do nosso amigo Johnny, que um tempo atrás comentou a respeito da sequência de perseguição, visitamos a Charlotte Mews, uma viela que une a Tottenham Street à Howland Street, localizada próximo à Charlotte Street e à Telecom Tower (torre de telecomunicações).

No final do filme A Hard Day’s Night, os Beatles vêm correndo por essa viela e, em seguida, entram no Teatro Scala, que já não existe mais, para a última apresentação.

A viela continua muito semelhante.  O prédio ao fundo parece que passou por uma reforma que modificou o formato das janelas. E o edifício marrom, à esquerda, também não parece ser o mesmo, mas o restante…

No lugar do teatro – demolido em 1969, depois de um incêndio – foi construído um prédio, denominado Scala House. Foi nesse teatro que foram filmadas as cenas de palco que aparecem no filme.

Na Tottenham Street, quase em frente à Charlotte Mews, ficava a entrada do palco (stage door) do Scala, por onde os Beatles entram. A entrada para o público localizava-se na Charlotte Street. É realmente uma pena não existir mais…

Antigo Scala Theatre

O interessante em relação a essas cenas de perseguição no filme é que os outros trechos do percurso, como já mostramos, foram filmados em Notting Hill (região oeste de Londres), e essa parte final localiza-se numa área central (Camden) chamada Theatreland, devido ao grande número de teatros. No filme, tudo parece muito próximo.

Trident Studios

Em 1968, no Reino Unido, a mesa de gravação em 8 canais ainda era novidade, e os estúdios Trident eram um dos poucos que possuíam uma Ampex 8 track machine. Consta que os estúdios de Abbey Road já haviam adquirido um equipamento 3M, mas ainda não havia sido instalado!!
Construídos em 1967 pelo instrumentista Norman Sheffield e seu irmão Barry, e localizados no nº 17 da St Annes Court, uma estreita passagem para pedestres que liga a Dean Street à Wardour Street, no Soho, os Trident Studios logo ficaram famosos, principalmente por terem sido utilizados pelos Beatles. A gravação mais famosa dessa época ocorreu entre 31 de julho e 6 de agosto de 1968, e a canção foi nada menos que Hey Jude.


O Trident foi muito utilizado também pela Apple, sobretudo antes de ficarem prontos os estúdios da Savile Row. Nesses mesmos dias, por exemplo, além de Hey Jude, estavam sendo gravadas faixas dos álbuns de Jack Lomax, produzido por George Harrison; de Mary Hopkins, produzida por Paul, e de James Taylor, com a supervisão de Paul McCartney.

Em 1968, várias canções do Álbum Branco foram gravadas nos Trident Studios: Dear Prudence (de 28 a 30/08); Honey Pie, Savoy Truffle e Martha My Dear (de 1 a 5/10). Do álbum Abbey Road, gravaram ali a canção I Want You (She’s So Heavy), entre 22 e 24 de fevereiro de 1969.

Os Trident Studios existiram até dezembro de 1981, quando foram vendidos e passaram a se chamar Trident Sound Studios Ltd. O rol de artistas importantes que gravaram nos estúdios originais é bem amplo: Queen, Lou Reed, Elton John, T Rex, David Bowe, Genesis, Nilsson, entre muitos outros. Sem contar que no Trident foram realizadas algumas sessões de gravação (My Sweet Lord) e a mixagem de All Things Must Pass, de George Harrison. De Ringo, o sucesso It Don’t Come Easy… Cold Turkey da Plastic Ono Band…

John chegando no Trident, para gravar "Dear Prudence"
John chegando no Trident, para gravar "Dear Prudence"

Quando estivemos lá, pudemos observar que os tempos de glória não foram esquecidos. É possível visitar o estúdio (que atualmente é bem diferente do original, e já não ocupa todos os andares do prédio, como no passado), comprar uma camiseta promocional da empresa…

Well, no thanks… Apenas tiramos fotos da fachada… as quais estamos postando agora para vocês.

As cenas de perseguição do filme “A Hard Day’s Night”

Este post fala de alguns lugares que já não existem mais.
E por mais maluco que pareça, tivemos que ir duas vezes a esses locais antes de escrever… para ter certeza de não dizer bobagem.
Você certamente se lembra das cenas de perseguição em A Hard Day’s Night nas quais os Beatles entram em uma delegacia para buscar o Ringo, depois saem correndo, com um bando de policiais correndo atrás deles, entram em uma rua sem saída, param e, em seguida, voltam correndo….
A foto de uma das cenas, com os Beatles correndo, voltando do beco sem saída, foi capa do compacto This Boy, no Brasil.

Pois é, amigos… sinto informar, mas esse beco não existe mais!
Na primeira ida a Notting Hill para ver esse lugar nós ainda não sabíamos disso… e ficamos procurando, pois a rua não consta mais no mapa da cidade, e fotografando todo cul-de-sac que encontramos na região.
Insatisfeitos, depois de muita pesquisa na internet, levantando o histórico da região, voltamos lá para fotografar… adivinhe! … (sorrow) o estacionamento em que se transformou a Heathfield Street.


Conforme apuramos, o que aconteceu foi o seguinte: a Heathfield Street de Notting Hill (há outras na cidade) era uma rua sem saída ou cul-de-sac (os britânicos adotam o nome francês), travessa da Portland Road. Ela servia de entrada para os depósitos das fábricas de cerâmica e tijolos que antigamente existiam na Walmer Road, a qual é uma rua paralela. Demolidas as fábricas e seus depósitos para a construção de pequenos prédios residenciais, a Heathfield Street foi incorporada e passou a constituir a área de lazer e o estacionamento dos prédios.  Não levaram em consideração o inestimável valor histórico do lugar para os beatlemaníacos!!!

Observe que o prédio à direita parece ser o mesmo que aparece de relance no filme.


Juntinho dali fica a Clarendon Road, a rua da delegacia de polícia… que na verdade era uma escola, a St John’s Secondary School, a qual foi demolida ainda nos anos 60. No mesmo lugar (nº 83) foi construído um prédio residencial que guarda uma certa semelhança com o original.

Note que o edifício ao lado, entretanto, ainda é o mesmo. Mesma disposição das janelas, e uma passagem lateral…

Na Portland Road fotografamos também o ex-pub Portland Arms (agora uma empresa denominada Cowshed), onde, no dia 16/4/1964,  os Beatles gravaram algumas cenas de A Hard Day’s Night que não entraram no filme.


Embora essa região tenha perdido o interesse para os fãs dos Beatles, o bairro em si é muito agradável. Há muitas lojinhas charmosas, casas bonitas… e parques… os ingleses são loucos por parques. Na Walmer Road fotografamos um antigo forno de tijolos, um dos únicos sobreviventes na cidade, espremido entre prédios de construção mais recente.


Mas alguma coisa sobrou da sequência de perseguição de A Hard Day’s Night: a parte final. Só que está localizada bem distante dali, na região central de Londres. Em breve postamos.

À esquerda, Hippodrome Mews (um outro cul-de-sac); à direita (portão), início da antiga Heathfield Street (o beco do filme); e ao fundo, a Walmer Road (entrada do Avondale Park)

Kisses on the bottom

Enquanto aguardamos o lançamento do novo CD do Paul, resolvemos mostrar aqui as mesmas canções gravadas para o disco nas versões originais.
Quando Paul participou em um programa de TV em homenagem a Frank Loesser ele contou que era um hábito de sua família sentarem-se todos em uma sala (tios, primos, irmãos…) particularmente nas reuniões de fim de ano, para cantarem juntos as canções que eram repertório dos mais velhos.
Nesse show Macca canta “On A Slow Boat To China”. Ele não gravou esta para o novo disco, mas incluiu outras duas canções de Loesser.
A escolha das músicas para o álbum Kisses on the bottom está baseada nessas memórias que Paul cultiva desde a infância.
Embora a grande maioria das canções tenha sido gravada por vários cantores e cantoras, procurei selecionar as gravações que mais parecem ser aquelas ouvidas pelos pais e tios de Macca, ou seja, as primeiras a serem executadas em rádio nos anos 30 e 40. (Clique nos links abaixo dos títulos das faixas para ouvir.)

As faixas:

I’m Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter (Fred E. Ahlert / Joe Young)

Im Gonna Sit Right Down And Write Myself A Letter – Boswell Sisters

Composta em 1935 e, talvez, ao lado de Bye Bye Blackbird e It’s Only A Paper Moon, sejam as mais conhecidas canções do disco.
É dela inclusive que sai título do CD:

I’m gonna sit right down and write myself a letter
And make believe it came from you

I’m gonna write words oh so sweet
They’re gonna knock me off my feet
A lotta kisses on the bottom
I’ll be glad I got ‘em

I’m gonna smile and say
I hope you’re feeling better
I’ll close with love the way you do
I’m gonna sit right down and write myself a letter
And I’m gonna make believe it came from you

I’m gonna write words oh so sweet
They’re gonna knock me off my feet
A lotta kisses on the bottom
I’ll be glad I got ‘em

I’m gonna sit right down and write myself a letter
And I’m make believe it came from you
Oh yeah
I’m gonna make believe it came from you

Já foi regravada por muita gente boa a partir dos anos 50: Frank Sinatra, Dean Martin, Nat King Cole, etc…e, mais recentemente, por Madeleine Peyroux em uma deliciosa versão em seu primeiro disco.
Fats Waller fez a primeira gravação, apenas ao piano. As Boswell Sisters gravaram com a letra completa, inclusive os primeiros versos que anunciam o porquê da decisão do cantor de escrever uma carta para si mesmo!

Home [When Shadows Fall] (Peter Van Steeden / Jeff Clarkson / Harry Clarkson)

Home (When Shadows Fall) – Louis Armstrong & His Orchestra

Primeiramente gravada por Rudy Valle & his Connecticut Yankees, em janeiro de 1932.
Louis Armstrong a gravou em seguida, ainda em 1932, e mais tarde a regravou no início dos anos 50.

It’s Only a Paper Moon (Harold Arlen / E. Y. Harburg / Billy Rose)

Its Only A Paper Moon – Nat King Cole

Nat King Cole a gravou entre 1944 e 1945 e depois a regravou anos mais tarde.
Essa canção é uma das mais regravadas entre as escolhidas por Paul. Antigas ou mais recentes, existem dezenas de interpretações. Uma interpretação de Harry Nilsson aparece nas faixas extras da reedição de 1988 de seu LP A Little Touch Of Schmilsson In The Night – álbum só de “Standards” lançado originalmente em 1973.

More I Cannot Wish You (Frank Loesser)

More I Cannot Wish You – Mabel Mercer

Composta em 1950 para o musical da Broadway “Guys and Dolls”.
Esta é certamente uma das mais obscuras entre as canções escolhidas por Paul; não existem muitas regravações dela. Frank Sinatra a cantou, junto com sua filha Nancy, Dean Martin e sua filha Gail, no Dean Martin Christmas Show de 1967.

The Glory of Love (Billy Hill)

The Glory Of Love – Benny Goodman with Helen Ward

Esta é a canção mais famosa de Billy Hill. Benny Goodman, com vocal de Helen Ward, a lançou em 1936, e ela foi gravada por vários cantores a partir dos anos 50, incluindo Peggy Lee e Dean Martin.

We Three (My Echo, My Shadow and Me) (Sammy Mysels / Dick Robertson / Nelson Cogane)

We Three (My Echo My Shadow And Me) – Frank Sinatra

Realizada por Sinatra, entre 1940 e 1942, acompanhado por Tommy Dorsey e sua Orquestra, esta gravação só esteve disponível em discos de 78 rpm até os anos 80, quando então todas as sessões de Sinatra com Tommy Dorsey foram compiladas e reeditadas em vinil e CD.

Ac-Cent-Tchu-Ate the Positive (Harold Arlen /Johnny Mercer)

Ac-Cent-Tchu-Ate The Positive – Andrews Sisters & Bing Crosby

Composta em 1944, esta canção foi sucesso em 1946 com Bing Crosby e também com as Andrew Sisters.
A letra mostra que dar mais valor às boas coisas (ser otimista) pode ser um dos segredos para a felicidade. Acho que Paul se identifica muito com a mensagem dela!!

Always (Irving Berlin)

Always – Deanna Durbin

Irving Berlin escreveu esta música como um presente de casamento para sua esposa, em 1925.
Macca gosta dessas homenagens! My Valentine foi escrita para a Nancy, não foi?
Gravações de sucesso ocorreram a partir de 1942, quando ela foi utilizada em alguns filmes.
Harry Nilsson também a gravou para seu LP A Little Touch Of Schmilsson In The Night, de 1973. Esta que coloco aqui, de Deanna Durbin, é de 1944 e do filme “Christmas Holiday”, com Gene Kelly.

My Very Good Friend The Milkman (Harold Spina / Johnny Burke)

My Very Good Friend The Milkman – Fats Waller

Composta em 1935 e lançada originalmente por Fats Waller.

Bye Bye Blackbird (Ray Henderson / Mort Dixon)

Bye Bye Blackbird – Gene Austin

Composta em 1926 e originalmente gravada por Gene Austin, esta canção tem dezenas de diferentes interpretações e arranjos, inclusive com sensíveis adaptações na letra. Paul optou por um arranjo mais lento (como o da Julie London) ao contrário de Ringo, em seu álbum Sentimental Journey de 1970, que gravou um arranjo bem acelerado (com muito banjo), escrito por Maurice Gibb (dos Bee Gees) então muito amigo de Ringo.
Muito popular também para as gerações mais novas, ela teve interpretações de Joe Cocker, Trini Lopez, Ricky Lee Jones, entre outros.

Get Yourself Another Fool (Haywood Henry / Tucker)

Get Yourself Another Fool – Charles Brown

Lançada originalmente por Charles Brown, no início dos anos 50, esta canção teve também grande repercussão quando regravada por Sam Cooke.

The Inch Worm (Frank Loesser)

The Inchworm – Danny Kaye

Composta em 1952, esta canção foi originalmente gravada por Danny Kaye, para o filme “Hans Christian Andersen”.
Mary Hopkin a gravou, com produção de Paul McCartney, para o seu primeiro LP lançado pela Apple, em 1969.

(I’d Like to Get You on a) On A Slow Boat To China (Frank Loesser)

On a Slow Boat to China – Kay Kyser

Esta canção foi composta em 1947 e gravada inicialmente por Kay Kyser. Mais tarde foi regravada por diversos outros cantores.
Embora não esteja no novo disco, incluímos aqui a gravação original de Kay Kyser, pois Paul a interpretou ao vivo em 2009, em um programa especial de homenagem a Frank Loesser.

Em um lugar chamado Notting Hill

Muito antes de ficar conhecido mundialmente, com o filme de Julia Roberts e Hugh Grant, o bairro de Notting Hill já aparecia, anonimamente, nos filmes ingleses, como em Alfie, com Michael Kane (1966) e em A Hard Day’s Night, dos Beatles.
Perto de Portobelo Road – um ponto turístico de Londres em virtude da feira de rua que acontece aos sábados e também por abrigar inúmeras lojas de antiguidades – fica a Lancaster Road, cenário de A Hard Day’s Night.
As cenas são aquelas em que Ringo abandona o teatro, com uma máquina fotográfica, e anda sozinho pelas ruas. A sequência começa na esquina da St. Lukes Road com a Lancaster Road.

Primeiramente Ringo tira fotografia de umas garrafas de leite sobre um muro, depois é reconhecido por umas garotas e tem que correr. Na esquina (nº 20) ele entra em um tipo de brechó e arruma um disfarce, para em seguida seguir tranquilo pela All Saints Road, depois de abordar uma garota e ver que ela não o reconhece.
Como já antecipamos aqui, um sábado desses fomos conferir o local.

A rua está bastante parecida com o que era. As construções são as mesmas, aliás, as casas aqui são reformadas… raramente demolidas. Algumas alterações na pintura dos muros e no formato das grades junto à rua, mas observamos que as grades que guarnecem as escadas ainda são as mesmas.


O comércio da esquina está bem diferente, enobreceu.

O brechó agora é uma loja de cortinas, denominada Prêt a Vivre. Comparando as imagens da All Saints Road, vemos que, em 1964, as casas não tinham acesso direto da rua para o basement (subsolo), e isso agora é uma constante. No mais, quase tudo igual.

All Saints Road

O bairro de Notting Hill é muito charmoso, vale a pena ser visitado. Aproveitamos o tempo restante para um passeio pela Portobelo, olhar umas lojinhas… Em outras épocas havia muito mais lojas de discos na região. Agora são em menor número, e extremamente caras, devido ao grande número de turistas que tomam conta do lugar, principalmente aos sábados. Um LP dos Beatles chega a custar 100 libras. Em  Berwick Street, travessa da Oxford Street, os preços são bem mais convidativos.

Não muito longe dali, também em Notting Hill, foram gravadas outras cenas de A Hard Day’s Night, um assunto para futuro post.