Ringo 2012

E nosso Ringo Starr encontrou há tempos sua zona de conforto e continua nos fornecendo trabalhos que, se não causam nenhuma surpresa positiva, também não desagradam. 2012 é mais um álbum de Ringo na mesma trilha que ele vem percorrendo desde Weight of the World (um grande disco).

O que falta a 2012 são as colaborações especiais de grandes amigos de peso (George, Paul …), que agregavam o algo mais a muitas canções de álbuns anteriores (um magnífico solo aqui, um irresistível backing vocal ali…).

O próprio Ringo se encarregou da produção do álbum (como ele já disse no álbum anterior, Y Not?) e conta com participação de Joe Walsh e Dave Stewart. No mercado americano, além do CD e vinil, foi lançada também uma edição especial, que traz um DVD bônus, com comentários de Ringo sobre o álbum.

Esse novo trabalho de Ringo é uma agradável coleção de canções (se bem que econômica, com seus menos de 30 minutos), que passa por regravações de ídolos: Buddy Holly (“Think it Over”) e Lonnie Donegan (que embora não seja o autor, tornou conhecida a canção “Rock Island Line”); e regravações de coisas suas: “Wings” (do fraquíssimo Ringo The 4th) e “Step Lightly” (do magnífico Ringo de 1973). “Think it Over” com Ringo, por sinal, também faz parte do tributo a Buddy Holly intitulado Listen to Me, que tem ainda Brian Wilson, Jeff Lynne, Stevie Nicks, entre outros.

Apenas cinco canções novas, todas de sua coautoria (parcerias com Glen Ballard, Van Dyke Parks, Gary Nicholson, Dave Stewart e Joe Walsh). Uma das inéditas, “In Liverpool”, dá continuidade a uma série de canções de cunho autobiográfico (“The Other Side of Liverpool” do Y Not de 2010 e “Liverpool 8” do CD com o mesmo título, de 2008), com suas lembranças dos tempos de início da carreira na cidade natal; todas elas compostas em parceria com Dave Stewart, ex-parceiro de Annie Lennox na dupla Eurythmics.

Em resumo: mais um trabalho de Ringo do qual – e aqui ESPERO queimar minha língua – não ouviremos nada na próxima versão da All-Starr Band que já está anunciada para 2012!


E para que não pairem dúvidas, já de antemão esclareço que este nosso comentário acabou ficando muito mais curto que o anterior, dedicado ao novo CD de Paul McCartney, não por qualquer preferência nossa. Não conclua desta forma! O tamanho do comentário é apenas proporcional ao tamanho do esforço dos artistas na confecção de seus discos.

My Valentine

O termo “pop” já há muitos anos passou a ser utilizado de forma pejorativa para (des)qualificar trabalhos de artistas, dando-lhes uma conotação de obras menores sob o ponto de vista artístico, apenas voltadas para o sucesso imediato. Paul McCartney foi e (em certa medida) continua sendo um dos principais alvos dos críticos nesse sentido.
Mas está mais que na hora desses formadores de opinião passarem a encarar os trabalhos de Paul com uma visão menos tacanha e míope.

Para muitos Paul é “o mais pop dos ex-Beatles”, não importa o que ele faça. McCartney pode compor um Liverpool Oratorio, pode compor música para balé (Ocean’s Kingdom); pode fazer experiências com música eletrônica (Firemen), pode gravar um álbum de standards americanos em sua maioria pouco conhecidos, como o caso de Kisses on the Bottom, e lá vem o crítico de plantão anunciar o mais “pop” dos Beatles… bla bla bla…
Muito mais importante que discutir o fato de Paul ser ou não o mais pop, é constatar que o músico tem provado ao longo de toda a sua carreira um intenso conhecimento e domínio de diversas formas de manifestação musical.
Para Macca, não existem fronteiras de qualquer natureza entre as formas de expressão musical. Música boa é música boa, seja ela rock, folk, R&B, reggae, balada, jazz, blues, etc…


Característica necessária a um músico Pop é a de encontrar o seu “nicho” e se estabelecer em sua zona de conforto ao decidir os passos a serem dados. McCartney está longe de ser um músico estabelecido em alguma zona de conforto, Kisses on the Bottom é mais uma demonstração disto. Repertório não desconhecido, mas pouco visitado por ele, além de grande perspectiva de comparações com monstros sagrados como Sinatra, Dean Martin, Julie London, Nat King Cole e tantos outros que transformaram essas canções em standards. Trabalhar com músicos profissionais de jazz, aqueles que “conhecem” cada nota que devem tocar. Limitar-se a ser apenas um “crooner”, ou seja, cantar sem estar “protegido” por qualquer instrumento.
Esses foram alguns dos desafios que Paul enfrentou ao decidir executar este álbum. O resultado prático? Excelente. O tratamento dado a cada canção é intimista, sóbrio e extremamente elegante.

O grupo de músicos que acompanha Paul é excepcional e inclui, entre outros, Diana Krall (ao piano, em todas as faixas, além dos arranjos) e John Pizzarelli. Conta ainda com algumas participações especiais, particularmente nas canções compostas por Paul: Eric Clapton, na faixa mais importante do CD, “My Valentine”, em um delicado e lindo solo de violão (Eric também empresta seu talento na gravação de “Get Yourself Another Fool”), e Stevie Wonder, com uma maravilhosa gaita em “Only Our Hearts”. O fato de Diana ser casada com Elvis Costello certamente facilitou o desenvolvimento dos trabalhos de escolha de repertório, arranjos e produção do disco.


No mais, a participação de Eric Clapton encerra de uma vez por todas os rumores (sem qualquer fundamento) de que Clapton e McCartney não se suportam!!

Na impecável performance ao vivo no Capitol Studios (iTunes em 9 de fevereiro), Joe Walsh (do grupo Eagles e atual cunhado de Ringo Starr) substitui Clapton e Abe Laboriel Jr. (baterista da atual banda de Paul e filho do baixista Abraham Laboriel) faz um preciso vocal de apoio em algumas canções.
Certamente Kisses on the Bottom é mais um trabalho a comprovar que Paul é o mais pop dos Beatles. Paul já esteve em 1º lugar nas paradas de sucesso de rock diversas vezes; de clássicos, algumas vezes.  Provavelmente, em breve também estará no topo das paradas dos discos de jazz.
So… Paul McCartney é seguramente o mais pop dos Beatles. Mas porque aquilo que ele faz se torna popular. Assim como os Beatles foram o grupo mais pop da história da música.

P.S. Bendita Nancy Shevell, por deixar o Macca tão inspirado! Abaixo, cantando “My Valentine” na cerimônia de entrega do Grammy 2012.

Um pouco mais sobre “A Hard Day’s Night”

A estação de trem de Marylebone, que aparece bastante no filme A Hard Day’s Night, fica na Marylebone Road.

Detalhe do filme "A Hard Day's Night"

Ao lado da estação visitamos a Boston Place, uma rua de pouco movimento, estreita… Na abertura de A Hard Day’s Night os Beatles aparecem correndo por essa rua, para em seguida entrar na estação de trem. Lembra-se? Aparentemente o lugar continua muito semelhante ao que era nos anos 60, porque as construções são bem antigas.

Em um dos lugares mais movimentados de Londres, o Piccadilly Circus, ficava o London Pavilion Theatre, local em que, em 6 de julho de 1964, ocorreu a première mundial do filme A Hard Day’s Night (e também de Help!, em 29/7/1965, e de Yellow Submarine, em 17/7/1968).

O espaço deixou de ser usado como teatro em 1986. Convertido em um tipo de shopping, apenas a fachada e a estrutura do prédio foram preservadas.

Em nossa ida a Londres no final de 1996, visitamos um museu de cera instalado no antigo Pavilion, o Rock Circus, um “braço” do Madame Tussoud’s inteiramente dedicado aos famosos do rock e pop. Esse museu fechou em 2001.

Atualmente, o local abriga o Ripley’s believe it or not!, uma atração dedicada a coisas estranhas, inacreditáveis… ainda não visitamos. Como pode ser visto na fotografia, a aglomeração na região continua grande… Só turistas, nada mais a ver com os Beatles!