Comentários sobre o filme “Living In The Material World”

O documentário de Martin Scorsese sobre George Harrison – Living In The Material World – teve ontem (4/10) um dia único de exibição em várias salas de cinema da Inglaterra. Compramos nosso bilhete com antecedência, na Internet, para um cinema em Stratford – bem próximo ao local onde está o novo estádio olímpico e em uma região que está sendo preparada (modernizada) para as Olimpíadas de 2012 em Londres.
Horário do filme: 19:00h, sessão única – bem adequado, considerando que são quase três horas e meia de projeção (208 minutos). Chegamos com antecipação suficiente para uma “voltinha” no imenso Shopping Centre (sim, na Inglaterra é “centre” e não “center”) recém-inaugurado na região e para uma pizza antes do filme.
Cinema lotado, sessão completamente sold-out.

Vamos ao filme:
De certa forma, como já imaginava, o filme causou sensações as mais diversas: surpresa com algumas cenas/imagens que não conhecia, em especial, trechos da excursão de George em 1974 – Dark Horse, pelos Estados Unidos, filmados profissionalmente; lágrimas de satisfação/alegria ao ver algumas imagens tão ternas de um “amigo” não mais presente; repúdio ao ver a presença patética de Yoko, que não tem nada a comentar sobre George… e não perdeu a chance de ironizar sobre Paul; estranheza ao ver que a primeira pessoa/artista a aparecer na tela é um Clapton assumido como “o amigo” de George… estranheza ainda pela falta de qualquer depoimento do amigo e parceiro Jeff Lynne e também de Bob Dylan.
Dividido em duas partes (os dois DVDs), separadas por pequeno intervalo, o filme foca inicialmente o período do George Beatle e em seguida o período de transição e a vida solo.
São 3 horas e meia deliciosas para quem gosta do homem/artista e acompanhou a sua carreira, mas ficarão muitas lacunas caso o objetivo seja “conhecer” a trajetória musical de George. Não há qualquer preocupação com cronologia, muito pouco é mostrado sobre a real contribuição de George para a obra dos Beatles, e o filme também se excede na fixação do álbum All Things Must Pass como a obra máxima de Harrison, em detrimento de outras coisas maravilhosas que ele produziu posteriormente.
Para um leigo, George pode ser entendido, por este filme, como o artista/compositor que, sem o devido espaço, não conseguiu produzir tudo o que desejava enquanto fazia parte dos Beatles e que, logo em seguida à separação da banda, produziu a grande obra de sua vida e que, a partir daí, nos trinta anos que se seguiram, passeou bastante, meditou muito, acompanhou corridas de Fórmula 1, esbanjou dinheiro na produção de filmes sem apelo comercial, distribuiu ukuleles, cultivou seu jardim, e que apenas eventualmente pegava em sua guitarra para compor algo. Após o período All Things Must Pass, Bangladesh, Living In The Material World (1970-1973) há poucas referências a canções de George e nada mais sobre os outros álbuns, apenas menção aos Traveling Wilburys. Cloud Nine, um enorme sucesso comercial e de crítica, sequer é mencionado.
Resumindo:
Scorsese montou um enorme filme para falar de George a pessoas que já amavam George antes de entrar no cinema. Mas os 208 minutos, em nenhum momento entediantes, não foram suficientes para conquistar pessoas. George Harrison merece muito mais do que esse filme.

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