Night Clubs (2)

O Crawdaddy Club, em Richmond, região sudoeste da Grande Londres, é mais um local que tem história. Os Rolling Stones se apresentavam ali, em 14 de abril de 1963, quando os Beatles foram assisti-los pela primeira vez.

(Observamos que no livro Many Years From Now, biografia de Paul McCartney, é mencionada a data de 21 de abril, a qual parece estar errada, de acordo com a “bíblia” de Mark Lewisohn.)

Os quatro Beatles ficaram muito bem impressionados com a performance… e poucos dias depois, George Harrison falou sobre os Rolling Stones a Dick Rowe, executivo da Decca Records – aquele que passou para a história como o homem que recusou os Beatles – com a recomendação de que não perdesse a oportunidade dessa vez. Dick Rowe foi assisti-los no Crawdaddy em 6 de maio de 1963 e imediatamente deu início às negociações para contratação da banda.

Depois dos Stones, os Yardbirds também tocaram lá bem no início da carreira. E até o Led Zeppelin… O nome da revista americana sobre música Crawdaddy!, foi inspirado no clube inglês.

Localizado no nº 1 da Kew Road, no Station Hotel, o Crawdaddy Club ficava exatamente em frente à estação de trem e metrô de Richmond. Devido ao grande sucesso das apresentações dos Stones, mudou-se logo em seguida para um lugar maior, no Richmond Athletic Association, bem pertinho dali.

Até bem pouco tempo atrás, no nº 1 da Kew Road funcionava um pub chamado The Bull.

Recentemente fizemos um delicioso passeio a Richmond e verificamos que agora ali está estabelecido um bar cujo nome é o próprio endereço: One Kew Road.

Bem perto de Piccadilly Circus, na Swallow Street nº 9, na área central de Londres, havia um night club denominado Sybilla’s, totalmente privê e frequentado apenas pelos vips da época. George Harrison era um dos sócios, juntamente com o DJ Alan Freeman, entre outros. A discoteca foi inaugurada em 22 de junho de 1966, com a presença dos quatro Beatles. A foto de Patty Boyd dançando (com Paul ao fundo?) consta que foi tirada nesse dia.

São pouquíssimas as referências a esse night club, provavelmente porque era realmente muito reservado. Sabe-se que John e George compareceram a uma festa de lançamento do álbum Music in a Doll’s House, do grupo Family no Sybilla’s, em julho de 1968.

Nessa época os Beatles estavam gravando o álbum branco e cogitavam colocar o nome de A Doll’s House, mas desistiram ante o lançamento do Family com um nome parecido. Não perderam nada, porque lançar um álbum sem título, com tiragem numerada, acabou sendo algo bem mais interessante e inovador para a época.

O grupo Badfinger (ainda como The Iveys) se apresentou várias vezes no Sybilla’s durante o ano de 1968 e, no dia 9 de outubro, aniversário de John Lennon, Pete Ham cantou “Revolution” em sua homenagem.

No último domingo passamos em frente ao endereço. Ainda é um clube privê (members club), denominado Anaya. Fica em uma pequena rua (calçadão) travessa da Piccadilly, com acesso pela Regent Street. Bem discreto, mal se percebe que se trata de uma casa noturna.


The day I met Yoko Ono…

Segunda-feira 2/4 fomos ao Borderline, uma casa de shows com cara de pub bem próximo da Soho Square (onde fica o prédio da MPL), para assistir a mais uma performance de James McCartney.


O show de James foi muito parecido com o que assistimos em dezembro passado no Barfly. Um pouco mais curto: desta vez não houve bis!
James McCartney parece um pouco mais “solto”, embora ainda cante a maior parte das músicas de olhos fechados! Alguns sorrisos inclusive… Continua interagindo muito pouco com a plateia e faz mínimas apresentações das canções.


A banda, muito boa, torna as canções mais “pesadas” do que encontramos no lançamento oficial em CD e algumas delas já se destacam como favoritas do público – “Angel” e “I Don’t Want To Be Alone”, esta em particular com um notável refrão digno do velho Macca!


Bem, vamos às curiosidades: Já tínhamos estado no Borderline assistindo a um show do norte-americano J.J.Grey & Mofro, um cantor e compositor que mistura blues/rock/country – muito interessante, por sinal – e já conhecíamos o espaço. Chegamos cedo para escolher o melhor lugar, tentando prever por onde um possível convidado ilustre poderia entrar, para nos posicionarmos estrategicamente… Junto de nós alguns representantes do James McCartney Fan Club – isso mesmo ele já tem fã clube! E alguns fãsnáticos do velho Macca prestigiando a segunda geração…

Pois bem, poucos instantes antes de começar o show, para surpresa de todos, entra ninguém menos do que Yoko Ono!! Ela fica bem junto à lateral do palco em área reservada e protegida por seguranças mas ainda assim muito próxima de nós. Próxima o suficiente para, em determinado instante, por entre os seguranças, eu a chamar pelo nome e solicitar uma foto, ao que ela prontamente atendeu me dando um exclusivo sorriso…


Yoko permaneceu durante todo o show muito alegre e interativa, parecia animada com tantos flashes, permitindo até que duas garotas da plateia – a brasileira Ana era uma delas – passassem pelos seguranças e fossem dançar com ela!!!


Yoko Ono, com esta atitude de prestar apoio ao filho de Paul e, principalmente, com a naturalidade com a qual a realizou, contribuiu bastante para reduzir a rejeição que ela sofre há muitos anos. Inclusive minha!!! Então… Dá para avaliar a crise de valores que eu estou enfrentando?
De acordo com o Daily Mail, Stella McCartney também estava presente, mas não a vimos nem ouvimos comentários sobre isso durante o show…


James ainda retornou, pelo fundo da sala, para receber o público para fotos e autógrafos. O número de pessoas interessadas desta vez era maior do que o tempo disponível e não nos foi possível chegar junto dele para novo autógrafo (Infelizmente Ader….vou mandar apenas o ingresso). Desta vez havia muitos jornalistas assistindo ao show e James logo foi chamado para dar entrevistas. Como a maioria deve ter lido, as matérias dos sites de notícia no dia seguinte ao show mencionaram uma possível reunião dos filhos dos Beatles para um trabalho conjunto. The Fab 4 Junior? The Young Beatles? Pouco provável, mas até que seria divertido!

Salisbury Plain e Stonehenge

No dia 19 de março visitamos mais um lugar que foi utilizado para locação do filme Help!. É um local mítico (místico, para alguns), acredita-se que erigido entre 3000 e 1600 a.C., chamado Stonehenge.


Henge
é uma forma arcaica de hang (pendurado/suspenso). Pedra suspensa? Esse conjunto pré-histórico de pedras, que na origem formavam um círculo, fica na planície de Salisbury, uma área campestre distante aproximadamente 13 km do centro de Salisbury. O monumento encontra-se alinhado com o nascer do sol no solstício de verão e com o pôr-do-sol durante o solstício de inverno. Sua finalidade, entretanto, é um mistério.

Detalhe do filme "Help!"

Foi nessa planície que foram filmadas as cenas em que os Beatles cantam “The night before e “I need you (de fundo, ouve-se também “She’s a woman), em meio a uma área de treinamento militar, com direito a tanques e armamentos para protegê-los… explosões e até mesmo um tanque de guerra cedido pelas tropas da Artilharia Real, no qual os Beatles se protegem do ataque dos fanáticos perseguidores de Ringo, devotos da deusa Kaili, com a ajuda de Ahme (Eleanor Bron)… A sequência termina com os Beatles enganando os inimigos, que explodem o tanque, mas os quatro Beatles e Ahme desceram antes, ao passarem por um monte de feno.

Em uma outra cidade próxima dali, Amesbury, fica o Antrobus Arms Hotel, no qual os Beatles se hospedaram em 2 de maio de 1965, por três dias, enquanto duraram as locações na planície de Salisbury. O hotel existe até hoje, oferecendo inclusive uma Beatles Suíte para quem quer se hospedar no mesmo quarto ocupado por eles… Esse local nós não conhecemos, mas fica a dica!

E já que estamos falando no Help!, olhe só o carrinho que encontramos dia desses, na Sloane Square, junto da King’s Road!

Ainda circulam por aí os carros da loja de departamentos Harrods, igualzinhos aos do filme… Muito legal!

Night Clubs

Algumas boates de Londres ficaram muito conhecidas nos anos 60 e 70, por seus frequentadores e também pelas bandas em início de carreira que lá se apresentavam.
Já comentamos aqui sobre o Bag O’ Nails Club,  na Kingly Street nº 9, o lugar onde Paul conheceu Linda, e o Scotch of St James, que ficava em Mason’s Yard nº 13, bem próximo à galeria de arte Indica, onde John conheceu Yoko Ono. Jimi Hendrix tocou nesses dois clubes.

Logo que chegamos a Londres, andando pelo Soho, visitamos o local em que, no passado, ficava The Marquee Club, na Wardour Street nº 90.

Esse lendário night club funcionou nesse endereço de 1964 a 1988 e por ele passaram os nomes mais conhecidos da cena inglesa, tanto no palco quanto na plateia (Rolling Stones, Animals, Yardbirds, Cream, David Bowie, The Who, Moody Blues, Led Zeppelin, entre muitos outros).

The Who no The Marquee Club

No local atualmente estão estabelecidos os restaurantes Meza e Floridita. A entrada do Marquee ficava no lugar onde hoje há a porta de um prédio (Soho Lofts) e nele há uma placa azul da Heritage Foundation, colocada em março de 2009, que estabelece uma ligação com Keith Moon, baterista do The Who (apenas ele, porque só pessoas de reconhecida importância, mortas há mais de 20 anos, costumam ter direito às placas azuis).


Foi numa temporada tocando no Marquee que Pete Townshend deu início à performance de quebrar a guitarra.

Outro night club importante no cenário musical de Londres nos anos 60, até o final dos anos 70, foi o Speakeasy Club, que ficava no nº 48 da Margaret Street, uma travessa da Regent Street, pertinho de Oxford Circus.

No Speakeasy, além de Jimi Hendrix (que tocou em todos os clubes mencionados até agora) apresentaram-se Pink Floyd, Deep Purple, King Crimson, Jeff Beck , Bob Marley, e muitos outros. Entre os frequentadores, os integrantes das principais bandas da época…


São muitas as menções a esses night clubs: George Harrison lembrava-se de ter tido um segundo encontro com Eric Clapton no The Marquee… Paul McCartney conta que foi com Linda e os integrantes do Animals ao Speakeasy, na noite em que se conheceram. Em 3 de julho de 1967, os Beatles recepcionaram os Monkees no Speakeasy (e dizem que a festa terminou às 6 da manhã, com uma jam session de George Harrison, Peter Tork e Keith Moon). The Who refere-se ao Speakeasy no álbum Who Sell Out (entre as faixas “Our Love Was” e “I Can See for Miles”).

Outro dia passamos pelo endereço onde ficava o Speakeasy Club e verificamos que no lugar agora existe uma escola de maquiagem e beleza (London Esthetique). Nada faz lembrar o importante passado. What a pity!

O roll de boates de Londres famosas pelos seus frequentadores nos anos 60 e 70 ainda não acabou.  Em breve postamos a continuação.

Beatles Boutiques

Acho que todo mundo se lembra ou já ouviu falar da boutique da Apple que ficava na esquina da Baker Street com a Paddington Street, em Marylebone, Londres. Inaugurada em 7 de dezembro de 1967, com muito agito, durou apenas seis meses e fechou em 30 de junho de 1968. O prédio original, no qual os Beatles mandaram pintar um imenso mural psicodélico desenhado pelo The Fool (grupo holandês de design coletivo) consta que foi demolido em 1974.

Alvo de muitas reclamações às autoridades locais,  o mural pintado na fachada teve que ser apagado em maio de 1968, sendo substituído por uma pintura branca, com a marca apple (com o A minúsculo).

Visitamos o prédio que existe atualmente no nº 94 da Baker Street.  É um prédio de escritórios com uma fachada no mesmo estilo do prédio antecessor. Na verdade, a fachada atual dá continuidade à fachada do prédio que já havia no meio do quarteirão, apenas o telhado é diferente.

A presença de uma placa azul da Musical Heritage estabelece uma ligação de John Lennon com o prédio, sem informar qual. (Apenas John? Isso deve ser coisa da Yoko…)

Coincidência ou não, nessa mesma rua (Baker Street nº 231/233) fica a London Beatles Store, uma loja totalmente dedicada à venda de merchandise dos Beatles: chaveiros, pins, camisetas, bolsas, toalhas… tudo que você puder imaginar com a marca Beatles.

Em relação às atividades da Apple Corps., um fato que quase ninguém se lembra é que os Beatles se envolveram no lançamento de uma segunda boutique…. A Apple Tailoring (Civil and Theatrical), inaugurada em 23 de maio de 1968, no nº 161 da King’s Road, em Chelsea, uma rua que rivalizava com a Carnaby Street em termos de glamour nos anos 60.

Por sinal, a primeira aparição pública de John com Yoko Ono ocorreu na véspera de sua inauguração, em um almoço na King’s Road e press conference para lançamento da nova boutique. Quando, depois de muito dinheiro investido e perdido nas duas lojas, os Beatles anunciaram que abandonariam esse ramo de negócios, deixaram o controle da Apple Tailoring para o estilista  John Crittle, seu idealizador (com John na foto abaixo).

Em um passeio pela King’s Road, pudemos observar que o endereço é parte de um conjunto de lojas no andar térreo de um prédio, e atualmente ali está estabelecida a empresa Proud Chelsea, uma galeria especializada em arte fotográfica.                        .

(Observe o piso da calçada junto à porta de entrada, na foto de John posando de modelo. Parece que ainda é o mesmo!)

A Kings’s Road continua interessante, com um comércio de nível alto, bons restaurantes… Almoçamos em um pub charmoso e antigo, bem próximo do local onde ficava a boutique, o Chelsea Potter, e ficamos divagando sobre a possibilidade de algum Beatle ter estado ali… Londres tem dessas coisas!

Cerca de duas quadras dali fotografamos a casa em que Caetano Veloso e Gilberto Gil moraram no tempo de exílio, de 1969 a 1972, a qual fica na Redesdale Street nº 16, em Chelsea. Uma casa de esquina, três andares mais o basement, situada em uma rua muito tranquila, mas convidativamente próxima da King’s Road que, à época, era um point. (Parece que há uma solicitação no sentido de que seja colocada uma plaquinha azul também nessa casa, para que o local entre no roteiro dos turistas brasileiros…)

“The Sixteen Chapel” apelido da casa de Caetano e Gil em Londres

Virando a esquina chegamos à Flood Street, rua onde ficava o estúdio fotográfico de Michael Cooper (nº 1-11) no qual, em 30 de março de 1967, foi feita a foto de capa do álbum Sargent Pepper’s (Chelsea Manor Photografic Studios).

1-11 Flood Street
1-11 Flood Street

É… Como diz o nosso amigo Johnny, esta é uma “terra santa”… É coisa demais para um dia só!  Abaixo, assista a um vídeo da época.

Caetano e Gil no exílio em Londres

Ringo 2012

E nosso Ringo Starr encontrou há tempos sua zona de conforto e continua nos fornecendo trabalhos que, se não causam nenhuma surpresa positiva, também não desagradam. 2012 é mais um álbum de Ringo na mesma trilha que ele vem percorrendo desde Weight of the World (um grande disco).

O que falta a 2012 são as colaborações especiais de grandes amigos de peso (George, Paul …), que agregavam o algo mais a muitas canções de álbuns anteriores (um magnífico solo aqui, um irresistível backing vocal ali…).

O próprio Ringo se encarregou da produção do álbum (como ele já disse no álbum anterior, Y Not?) e conta com participação de Joe Walsh e Dave Stewart. No mercado americano, além do CD e vinil, foi lançada também uma edição especial, que traz um DVD bônus, com comentários de Ringo sobre o álbum.

Esse novo trabalho de Ringo é uma agradável coleção de canções (se bem que econômica, com seus menos de 30 minutos), que passa por regravações de ídolos: Buddy Holly (“Think it Over”) e Lonnie Donegan (que embora não seja o autor, tornou conhecida a canção “Rock Island Line”); e regravações de coisas suas: “Wings” (do fraquíssimo Ringo The 4th) e “Step Lightly” (do magnífico Ringo de 1973). “Think it Over” com Ringo, por sinal, também faz parte do tributo a Buddy Holly intitulado Listen to Me, que tem ainda Brian Wilson, Jeff Lynne, Stevie Nicks, entre outros.

Apenas cinco canções novas, todas de sua coautoria (parcerias com Glen Ballard, Van Dyke Parks, Gary Nicholson, Dave Stewart e Joe Walsh). Uma das inéditas, “In Liverpool”, dá continuidade a uma série de canções de cunho autobiográfico (“The Other Side of Liverpool” do Y Not de 2010 e “Liverpool 8” do CD com o mesmo título, de 2008), com suas lembranças dos tempos de início da carreira na cidade natal; todas elas compostas em parceria com Dave Stewart, ex-parceiro de Annie Lennox na dupla Eurythmics.

Em resumo: mais um trabalho de Ringo do qual – e aqui ESPERO queimar minha língua – não ouviremos nada na próxima versão da All-Starr Band que já está anunciada para 2012!


E para que não pairem dúvidas, já de antemão esclareço que este nosso comentário acabou ficando muito mais curto que o anterior, dedicado ao novo CD de Paul McCartney, não por qualquer preferência nossa. Não conclua desta forma! O tamanho do comentário é apenas proporcional ao tamanho do esforço dos artistas na confecção de seus discos.

My Valentine

O termo “pop” já há muitos anos passou a ser utilizado de forma pejorativa para (des)qualificar trabalhos de artistas, dando-lhes uma conotação de obras menores sob o ponto de vista artístico, apenas voltadas para o sucesso imediato. Paul McCartney foi e (em certa medida) continua sendo um dos principais alvos dos críticos nesse sentido.
Mas está mais que na hora desses formadores de opinião passarem a encarar os trabalhos de Paul com uma visão menos tacanha e míope.

Para muitos Paul é “o mais pop dos ex-Beatles”, não importa o que ele faça. McCartney pode compor um Liverpool Oratorio, pode compor música para balé (Ocean’s Kingdom); pode fazer experiências com música eletrônica (Firemen), pode gravar um álbum de standards americanos em sua maioria pouco conhecidos, como o caso de Kisses on the Bottom, e lá vem o crítico de plantão anunciar o mais “pop” dos Beatles… bla bla bla…
Muito mais importante que discutir o fato de Paul ser ou não o mais pop, é constatar que o músico tem provado ao longo de toda a sua carreira um intenso conhecimento e domínio de diversas formas de manifestação musical.
Para Macca, não existem fronteiras de qualquer natureza entre as formas de expressão musical. Música boa é música boa, seja ela rock, folk, R&B, reggae, balada, jazz, blues, etc…


Característica necessária a um músico Pop é a de encontrar o seu “nicho” e se estabelecer em sua zona de conforto ao decidir os passos a serem dados. McCartney está longe de ser um músico estabelecido em alguma zona de conforto, Kisses on the Bottom é mais uma demonstração disto. Repertório não desconhecido, mas pouco visitado por ele, além de grande perspectiva de comparações com monstros sagrados como Sinatra, Dean Martin, Julie London, Nat King Cole e tantos outros que transformaram essas canções em standards. Trabalhar com músicos profissionais de jazz, aqueles que “conhecem” cada nota que devem tocar. Limitar-se a ser apenas um “crooner”, ou seja, cantar sem estar “protegido” por qualquer instrumento.
Esses foram alguns dos desafios que Paul enfrentou ao decidir executar este álbum. O resultado prático? Excelente. O tratamento dado a cada canção é intimista, sóbrio e extremamente elegante.

O grupo de músicos que acompanha Paul é excepcional e inclui, entre outros, Diana Krall (ao piano, em todas as faixas, além dos arranjos) e John Pizzarelli. Conta ainda com algumas participações especiais, particularmente nas canções compostas por Paul: Eric Clapton, na faixa mais importante do CD, “My Valentine”, em um delicado e lindo solo de violão (Eric também empresta seu talento na gravação de “Get Yourself Another Fool”), e Stevie Wonder, com uma maravilhosa gaita em “Only Our Hearts”. O fato de Diana ser casada com Elvis Costello certamente facilitou o desenvolvimento dos trabalhos de escolha de repertório, arranjos e produção do disco.


No mais, a participação de Eric Clapton encerra de uma vez por todas os rumores (sem qualquer fundamento) de que Clapton e McCartney não se suportam!!

Na impecável performance ao vivo no Capitol Studios (iTunes em 9 de fevereiro), Joe Walsh (do grupo Eagles e atual cunhado de Ringo Starr) substitui Clapton e Abe Laboriel Jr. (baterista da atual banda de Paul e filho do baixista Abraham Laboriel) faz um preciso vocal de apoio em algumas canções.
Certamente Kisses on the Bottom é mais um trabalho a comprovar que Paul é o mais pop dos Beatles. Paul já esteve em 1º lugar nas paradas de sucesso de rock diversas vezes; de clássicos, algumas vezes.  Provavelmente, em breve também estará no topo das paradas dos discos de jazz.
So… Paul McCartney é seguramente o mais pop dos Beatles. Mas porque aquilo que ele faz se torna popular. Assim como os Beatles foram o grupo mais pop da história da música.

P.S. Bendita Nancy Shevell, por deixar o Macca tão inspirado! Abaixo, cantando “My Valentine” na cerimônia de entrega do Grammy 2012.

Um pouco mais sobre “A Hard Day’s Night”

A estação de trem de Marylebone, que aparece bastante no filme A Hard Day’s Night, fica na Marylebone Road.

Detalhe do filme "A Hard Day's Night"

Ao lado da estação visitamos a Boston Place, uma rua de pouco movimento, estreita… Na abertura de A Hard Day’s Night os Beatles aparecem correndo por essa rua, para em seguida entrar na estação de trem. Lembra-se? Aparentemente o lugar continua muito semelhante ao que era nos anos 60, porque as construções são bem antigas.

Em um dos lugares mais movimentados de Londres, o Piccadilly Circus, ficava o London Pavilion Theatre, local em que, em 6 de julho de 1964, ocorreu a première mundial do filme A Hard Day’s Night (e também de Help!, em 29/7/1965, e de Yellow Submarine, em 17/7/1968).

O espaço deixou de ser usado como teatro em 1986. Convertido em um tipo de shopping, apenas a fachada e a estrutura do prédio foram preservadas.

Em nossa ida a Londres no final de 1996, visitamos um museu de cera instalado no antigo Pavilion, o Rock Circus, um “braço” do Madame Tussoud’s inteiramente dedicado aos famosos do rock e pop. Esse museu fechou em 2001.

Atualmente, o local abriga o Ripley’s believe it or not!, uma atração dedicada a coisas estranhas, inacreditáveis… ainda não visitamos. Como pode ser visto na fotografia, a aglomeração na região continua grande… Só turistas, nada mais a ver com os Beatles!

Charlotte Mews

Seguindo uma sugestão do nosso amigo Johnny, que um tempo atrás comentou a respeito da sequência de perseguição, visitamos a Charlotte Mews, uma viela que une a Tottenham Street à Howland Street, localizada próximo à Charlotte Street e à Telecom Tower (torre de telecomunicações).

No final do filme A Hard Day’s Night, os Beatles vêm correndo por essa viela e, em seguida, entram no Teatro Scala, que já não existe mais, para a última apresentação.

A viela continua muito semelhante.  O prédio ao fundo parece que passou por uma reforma que modificou o formato das janelas. E o edifício marrom, à esquerda, também não parece ser o mesmo, mas o restante…

No lugar do teatro – demolido em 1969, depois de um incêndio – foi construído um prédio, denominado Scala House. Foi nesse teatro que foram filmadas as cenas de palco que aparecem no filme.

Na Tottenham Street, quase em frente à Charlotte Mews, ficava a entrada do palco (stage door) do Scala, por onde os Beatles entram. A entrada para o público localizava-se na Charlotte Street. É realmente uma pena não existir mais…

Antigo Scala Theatre

O interessante em relação a essas cenas de perseguição no filme é que os outros trechos do percurso, como já mostramos, foram filmados em Notting Hill (região oeste de Londres), e essa parte final localiza-se numa área central (Camden) chamada Theatreland, devido ao grande número de teatros. No filme, tudo parece muito próximo.

Trident Studios

Em 1968, no Reino Unido, a mesa de gravação em 8 canais ainda era novidade, e os estúdios Trident eram um dos poucos que possuíam uma Ampex 8 track machine. Consta que os estúdios de Abbey Road já haviam adquirido um equipamento 3M, mas ainda não havia sido instalado!!
Construídos em 1967 pelo instrumentista Norman Sheffield e seu irmão Barry, e localizados no nº 17 da St Annes Court, uma estreita passagem para pedestres que liga a Dean Street à Wardour Street, no Soho, os Trident Studios logo ficaram famosos, principalmente por terem sido utilizados pelos Beatles. A gravação mais famosa dessa época ocorreu entre 31 de julho e 6 de agosto de 1968, e a canção foi nada menos que Hey Jude.


O Trident foi muito utilizado também pela Apple, sobretudo antes de ficarem prontos os estúdios da Savile Row. Nesses mesmos dias, por exemplo, além de Hey Jude, estavam sendo gravadas faixas dos álbuns de Jack Lomax, produzido por George Harrison; de Mary Hopkins, produzida por Paul, e de James Taylor, com a supervisão de Paul McCartney.

Em 1968, várias canções do Álbum Branco foram gravadas nos Trident Studios: Dear Prudence (de 28 a 30/08); Honey Pie, Savoy Truffle e Martha My Dear (de 1 a 5/10). Do álbum Abbey Road, gravaram ali a canção I Want You (She’s So Heavy), entre 22 e 24 de fevereiro de 1969.

Os Trident Studios existiram até dezembro de 1981, quando foram vendidos e passaram a se chamar Trident Sound Studios Ltd. O rol de artistas importantes que gravaram nos estúdios originais é bem amplo: Queen, Lou Reed, Elton John, T Rex, David Bowe, Genesis, Nilsson, entre muitos outros. Sem contar que no Trident foram realizadas algumas sessões de gravação (My Sweet Lord) e a mixagem de All Things Must Pass, de George Harrison. De Ringo, o sucesso It Don’t Come Easy… Cold Turkey da Plastic Ono Band…

John chegando no Trident, para gravar "Dear Prudence"
John chegando no Trident, para gravar "Dear Prudence"

Quando estivemos lá, pudemos observar que os tempos de glória não foram esquecidos. É possível visitar o estúdio (que atualmente é bem diferente do original, e já não ocupa todos os andares do prédio, como no passado), comprar uma camiseta promocional da empresa…

Well, no thanks… Apenas tiramos fotos da fachada… as quais estamos postando agora para vocês.