Já estive em Londres algumas vezes, mas em nenhuma delas tive a oportunidade de conhecer por dentro um dos locais mais iconizados como palco de bons concertos de rock, o Royal Albert Hall.
Desta vez, David Crosby e Graham Nash me proporcionaram a oportunidade que sempre faltou. Crosby afirma durante o show que este é o melhor local do mundo para se tocar. Não posso avaliar essa afirmação sob o ponto de vista do artista no palco, mas como espectador o ambiente realmente impressiona pela arquitetura, amplidão e principalmente pela perfeita acústica para apreciar música.
Os Beatles poucas vezes tocaram no Royal Albert Hall, apenas no início da carreira, como em 15 de setembro de 1963, quando pela primeira vez os Beatles e os Rolling Stones participaram do mesmo evento (The Great Pop Prom); ou ainda em 18 de abril de 1963, na apresentação para a BBC em que Paul McCartney conheceu Jane Asher.
O incrível Concert for George, em 29 de novembro de 2002, também foi nesse palco, e imagino como deve ter sido emocionante assistir, ao vivo, em um ambiente tão nobre, à mais sincera e tocante homenagem já prestada a um artista.

Para falar da apresentação de Crosby e Nash preciso começar por Paul McCartney. Macca já declarou mais de uma vez que a forma que ele usa para selecionar o repertório (set list) de seus shows é baseado na expectativa que ele, Paul, teria ao assistir a um show de qualquer artista famoso. Ele se coloca na posição de um indivíduo qualquer pensando: “o que eu gostaria de ver fulano de tal tocando neste show”.
Talvez por essa razão os shows de Paul, para quem os assiste com frequência (os fãs assíduos), tornam-se repetitivos (Let It Be, Long and Winding Road, Hey Jude, Yesterday, Band on The Run…). Eu, por exemplo, vivo reclamando disso… Entretanto, as pessoas, que não os fãs inveterados, gostariam de ver o show montado com as músicas que elas mais conhecem, invariavelmente os hits do artista. Macca tem razão!

Fui para o Royal Albert Hall tendo na cabeça as canções que mais gosto de Nash e Crosby. Curto profundamente a obra desses caras (incluindo as formações com o Stills e o Young), mas não sou um típico fã de carteirinha. Tenho, acredito, a grande maioria dos discos deles e portanto conheço sua obra de forma quase completa. Mentalmente criei meu set list para o show. Boa parte do que eles tocaram coincidiu: “I used to be a king”, “Almost cut my hair”, “Guinnevere”, “Chicago”, “Just a song before I go”, “Teach your children”…
Mas não deixei de ficar frustrado ao ver que muito espaço do show foi preenchido com canções que, nem de longe, estão na minha lista de preferências e muito menos fazem parte das mais conhecidas deles. Crosby em um momento declara: “Eu sou o cara que, em qualquer banda que esteja, tem o trabalho de escrever as estranhas porcarias” (tradução quase literal de sua frase: Everybody here knows that whatever band I’m in, I have the job to write the weird shit). E Crosby tem um espaço enorme no show…
As formas de composição mais estranhas de Crosby sempre serviram para ser o contraponto ao estilo mais melódico de Nash. Está nesse equilíbrio, talvez, o segredo da longevidade bem-sucedida da dupla. Para cada “Teach your children” de Nash há sempre algum “Almost cut my hair” de Crosby e para cada “Guinnevere” de Crosby tem sempre algum “Our house” de Nash.
Invariavelmente os arranjos colocaram um “peso” maior no tratamento de canções já elétricas (“Military madness”, “I used to be a King”) e ficou em segundo plano o lado mais acústico da dupla.

Duas excelentes surpresas: “Eight miles high” dos Byrds na abertura do show: excepcional! E, após o intervalo (isso mesmo, parece que no Royal Albert Hall sempre há um intervalo de cerca de 20 minutos para se tomar um “pint” de cerveja), abrindo a segunda parte, Nash convidou Allan Clarke, antigo companheiro no grupo Hollies e os dois cantaram juntos “Bus Stop”, hit da banda de 1966. Nash logo em seguida classificou a música como um “nonsense”, mas a platéia – quase 100% de “seniors” – adorou e cantou junto.
David Gilmour, amigo de todos, foi mencionado duas vezes. A primeira quando o show foi dedicado a ele e a segunda quando Nash, apresentando os membros da banda, informou que o baterista, Steve DiStanislao, foi “roubado” do grupo que acompanhava Gilmour. Os outros membros do grupo são Dean Parks (guitarra), Kevin McCormick (baixo), e o filho de Crosby, Jeff Raymond (teclados).
Para encerrar, “Wooden Ships”, exageradamente alongada pelos momentos de solo de cada instrumento da banda: gaita, baixo, guitarra, teclado. Meio “boring” (desculpe, Pepe!).
No bis, para todos saírem com sorrisos nos lábios, eles tocaram “Chicago” do primeiro disco solo de Nash e, em seguida, “Teach your children”. Essa não poderia faltar!!
Veja o set list:
1. Eight Miles High 2. I Used to Be a King 3. Long Time Gone 4. Marrakesh Express 5. Lay Me Down 6. Old Soldier 7. Just A Song Before I Go 8. Slice Of Time (música nova de Crosby) 9. Don’t Dig Here 10. Critical Mass 11. Wind On The Water 12. Almost Cut My Hair 13. Bus Stop (com Allan Clarke) 14. Our House 15. Guinnevere 16. In Your Name 17. What Are Their Names? 18. They Want It All 19. Taken at All 20. Orleans 21. Cathedral 22. Deja Vu 23. Military Madness 24. Wooden Ships Bis: 25. Chicago 26. Teach Your Children