Finalmente os brasileiros terão a oportunidade de assistir ao vivo a mais um dos ícones dos anos 60. Oportunidade também para os críticos e oportunistas (ou melhor dizendo: os críticos oportunistas) aproveitarem o momento para destilar suas frustrações e recalques, fazendo os tradicionais comentários de pouco caso, tentando diminuir a importância do músico.
Gente famosa na mídia brasileira (TV, jornais e revistas) e até um ex-humorista, ambicioso postulante a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, não perderam a chance de tentar reduzir Ringo a um mero coadjuvante dentro dos Beatles. Esses meio-entendedores da obra do quarteto sequer se preocuparam em pesquisar um pouco melhor antes de proferir seus comentários, com ares de “experts”…
João Gilberto, ao receber vaias em setembro de 1999, no show de inauguração do Credicard Hall em São Paulo, reagiu cantarolando: “Vaia de bêbado não vale…”. Vale aqui a analogia: “Crítica de ex-humorista não vale!”
Não precisamos ir muito longe para buscarmos as referências sobre a importância de Ringo para os Beatles. John, Paul, George e George Martin em diversos momentos fizeram comentários enaltecendo as qualidades de Ringo como baterista.
Se Ringo não é um músico de fina técnica, também não o é (ou foi) nenhum dos outros três. Nenhum deles sabia ou sabe ler e escrever música. Todos os quatro tiveram formação totalmente intuitiva. Mas é importante entender que os Beatles nunca objetivaram se transformar em um grupo de virtuosos instrumentistas. Eles foram um grupo de virtuosos CRIADORES.
Dentro do seu processo de criação – o mais eficiente de que se tem notícia no campo da música popular – eles conseguiram provar a força de uma unidade criativa perfeita: compositores, cantores, músicos e arranjadores, todos trabalhando em favor de um resultado em nome do GRUPO.
Se Ringo não se desenvolveu como compositor durante a carreira da banda, isso em nenhuma hipótese deve ofuscar sua contribuição para o padrão de qualidade da obra dos Beatles. Afinal, diante da prolixidade da dupla Lennon e McCartney, até mesmo Harrison teve dificuldades para conquistar seu espaço.
Ringo Starr dava ao grupo a exata medida de precisão do ritmo requerido para cada canção gravada.
Deve-se ter em mente sempre que uma das maiores qualidades do grupo sempre foi o ecletismo. As mais diversas manifestações musicais foram incorporadas à obra dos Beatles e Ringo incluía de forma sempre perfeita a sua percussão. Ou alguém pode imaginar que a obra do grupo poderia ser melhorada pela presença de outro padrão de bateria?
Alguém trocaria a percussão de “A day in the life”, “Get back”, “Strawberry Fields forever”, “Rain”, “Something”, “Ticket to ride”, “Good day sunshine”, “Tomorrow never knows” … etc… etc… para tornar essas gravações melhores?
Aos críticos e detratores, parafraseando o comentário de McCartney sobre as críticas ao fato do Álbum Branco ser duplo (DVD Anthology): Ringo Starr is the bloody Beatles drummer. So shut up, you all! Ringo Starr foi o único baterista da melhor banda de todos os tempos. Esse currículo é suficiente!