Night Clubs (2)

O Crawdaddy Club, em Richmond, região sudoeste da Grande Londres, é mais um local que tem história. Os Rolling Stones se apresentavam ali, em 14 de abril de 1963, quando os Beatles foram assisti-los pela primeira vez.

(Observamos que no livro Many Years From Now, biografia de Paul McCartney, é mencionada a data de 21 de abril, a qual parece estar errada, de acordo com a “bíblia” de Mark Lewisohn.)

Os quatro Beatles ficaram muito bem impressionados com a performance… e poucos dias depois, George Harrison falou sobre os Rolling Stones a Dick Rowe, executivo da Decca Records – aquele que passou para a história como o homem que recusou os Beatles – com a recomendação de que não perdesse a oportunidade dessa vez. Dick Rowe foi assisti-los no Crawdaddy em 6 de maio de 1963 e imediatamente deu início às negociações para contratação da banda.

Depois dos Stones, os Yardbirds também tocaram lá bem no início da carreira. E até o Led Zeppelin… O nome da revista americana sobre música Crawdaddy!, foi inspirado no clube inglês.

Localizado no nº 1 da Kew Road, no Station Hotel, o Crawdaddy Club ficava exatamente em frente à estação de trem e metrô de Richmond. Devido ao grande sucesso das apresentações dos Stones, mudou-se logo em seguida para um lugar maior, no Richmond Athletic Association, bem pertinho dali.

Até bem pouco tempo atrás, no nº 1 da Kew Road funcionava um pub chamado The Bull.

Recentemente fizemos um delicioso passeio a Richmond e verificamos que agora ali está estabelecido um bar cujo nome é o próprio endereço: One Kew Road.

Bem perto de Piccadilly Circus, na Swallow Street nº 9, na área central de Londres, havia um night club denominado Sybilla’s, totalmente privê e frequentado apenas pelos vips da época. George Harrison era um dos sócios, juntamente com o DJ Alan Freeman, entre outros. A discoteca foi inaugurada em 22 de junho de 1966, com a presença dos quatro Beatles. A foto de Patty Boyd dançando (com Paul ao fundo?) consta que foi tirada nesse dia.

São pouquíssimas as referências a esse night club, provavelmente porque era realmente muito reservado. Sabe-se que John e George compareceram a uma festa de lançamento do álbum Music in a Doll’s House, do grupo Family no Sybilla’s, em julho de 1968.

Nessa época os Beatles estavam gravando o álbum branco e cogitavam colocar o nome de A Doll’s House, mas desistiram ante o lançamento do Family com um nome parecido. Não perderam nada, porque lançar um álbum sem título, com tiragem numerada, acabou sendo algo bem mais interessante e inovador para a época.

O grupo Badfinger (ainda como The Iveys) se apresentou várias vezes no Sybilla’s durante o ano de 1968 e, no dia 9 de outubro, aniversário de John Lennon, Pete Ham cantou “Revolution” em sua homenagem.

No último domingo passamos em frente ao endereço. Ainda é um clube privê (members club), denominado Anaya. Fica em uma pequena rua (calçadão) travessa da Piccadilly, com acesso pela Regent Street. Bem discreto, mal se percebe que se trata de uma casa noturna.


Friar Park

Sábado, dia 25 de novembro, tivemos o enorme prazer de visitar a cidade em que George Harrison morou por mais de 30 anos: Henley-on-Thames.

Placa localizada ao lado de Friar Park

O trem para lá sai da estação de Paddington, e é preciso fazer uma conexão em Twyford. A viagem dura cerca de uma hora. A cidade, às margens do rio Tâmisa, fica a 55 km a oeste de Londres, em Oxfordshire. Embora pequena, é bastante movimentada, com muitas lojas e restaurantes. Tem vários prédios de importância histórica, porque está localizada em um antigo caminho que remonta ao século XII.

Rua central de Henley-on-Thames

Henley-on-Thames é bastante conhecida também por sediar anualmente a competição de remo denominada Henley Royal Regatta.

Gravel Hill, rua que, saindo do centro, leva a Friar Park

Mas uma propriedade, especificamente, atrai muitos turistas como nós para essa cidade: Friar Park, a incrível mansão de George Harrison. Construída aproximadamente em 1875, em estilo neo-gótico, sua entrada fica a cerca de 500 metros do ponto mais central de Henley-on-Thames, na Gravel Hill.

O antigo proprietário da mansão, Sir Frank Crisp, foi homenageado por George na canção Ballad of Sir Frankie Crisp (Let it roll), do álbum All Things Must Pass.

Sabíamos que só conseguiríamos ver a portaria da casa, porque a mansão efetivamente está completamente encoberta pelos imensos jardins que a circundam… mas já valeu a pena. Uma sensação de paz e uma imensa alegria nos foi transmitida por aquele lugar.

Emoção, ao pensar em George cuidando daqueles jardins… compondo e gravando suas canções nos estúdios localizados logo ali… identificados nos discos pela sigla F.P.S.H.O.T. (Friar Park Studio, Henley-on-Thames).


Depois da sessão de fotos na entrada, subimos a Gravel Hill, circundando a propriedade, e alguns metros adiante encontramos uma entrada secundária, a qual também foi fotografada. Nenhum funcionário ou segurança, ninguém por ali… Apenas um casal visitando o local, certamente pelos mesmos motivos.

Prédio na entrada secundária


Passamos um dia muito gostoso em Henley-on-Thames. Um momento único para nós, um verdadeiro “remembrance day” do legado do magnífico artista que foi George Harrison.

Comentários sobre o filme “Living In The Material World”

O documentário de Martin Scorsese sobre George Harrison – Living In The Material World – teve ontem (4/10) um dia único de exibição em várias salas de cinema da Inglaterra. Compramos nosso bilhete com antecedência, na Internet, para um cinema em Stratford – bem próximo ao local onde está o novo estádio olímpico e em uma região que está sendo preparada (modernizada) para as Olimpíadas de 2012 em Londres.
Horário do filme: 19:00h, sessão única – bem adequado, considerando que são quase três horas e meia de projeção (208 minutos). Chegamos com antecipação suficiente para uma “voltinha” no imenso Shopping Centre (sim, na Inglaterra é “centre” e não “center”) recém-inaugurado na região e para uma pizza antes do filme.
Cinema lotado, sessão completamente sold-out.

Vamos ao filme:
De certa forma, como já imaginava, o filme causou sensações as mais diversas: surpresa com algumas cenas/imagens que não conhecia, em especial, trechos da excursão de George em 1974 – Dark Horse, pelos Estados Unidos, filmados profissionalmente; lágrimas de satisfação/alegria ao ver algumas imagens tão ternas de um “amigo” não mais presente; repúdio ao ver a presença patética de Yoko, que não tem nada a comentar sobre George… e não perdeu a chance de ironizar sobre Paul; estranheza ao ver que a primeira pessoa/artista a aparecer na tela é um Clapton assumido como “o amigo” de George… estranheza ainda pela falta de qualquer depoimento do amigo e parceiro Jeff Lynne e também de Bob Dylan.
Dividido em duas partes (os dois DVDs), separadas por pequeno intervalo, o filme foca inicialmente o período do George Beatle e em seguida o período de transição e a vida solo.
São 3 horas e meia deliciosas para quem gosta do homem/artista e acompanhou a sua carreira, mas ficarão muitas lacunas caso o objetivo seja “conhecer” a trajetória musical de George. Não há qualquer preocupação com cronologia, muito pouco é mostrado sobre a real contribuição de George para a obra dos Beatles, e o filme também se excede na fixação do álbum All Things Must Pass como a obra máxima de Harrison, em detrimento de outras coisas maravilhosas que ele produziu posteriormente.
Para um leigo, George pode ser entendido, por este filme, como o artista/compositor que, sem o devido espaço, não conseguiu produzir tudo o que desejava enquanto fazia parte dos Beatles e que, logo em seguida à separação da banda, produziu a grande obra de sua vida e que, a partir daí, nos trinta anos que se seguiram, passeou bastante, meditou muito, acompanhou corridas de Fórmula 1, esbanjou dinheiro na produção de filmes sem apelo comercial, distribuiu ukuleles, cultivou seu jardim, e que apenas eventualmente pegava em sua guitarra para compor algo. Após o período All Things Must Pass, Bangladesh, Living In The Material World (1970-1973) há poucas referências a canções de George e nada mais sobre os outros álbuns, apenas menção aos Traveling Wilburys. Cloud Nine, um enorme sucesso comercial e de crítica, sequer é mencionado.
Resumindo:
Scorsese montou um enorme filme para falar de George a pessoas que já amavam George antes de entrar no cinema. Mas os 208 minutos, em nenhum momento entediantes, não foram suficientes para conquistar pessoas. George Harrison merece muito mais do que esse filme.

Going down to Golders Green

Estar em uma cidade como Londres por um tempo mais longo como estamos nos permite sair do lugar comum dos passeios quase obrigatórios que todo visitante faz. A gente consegue perder um pouco a sensação de turista.
Sair pela cidade completamente fancy free é uma ótima opção. Outra alternativa é alterar repentinamente o roteiro de um passeio programado sem ter a exata noção dos caminhos a percorrer.
Outro dia, queríamos, por exemplo, conhecer um parque de onde se tem a melhor vista de Londres: Hampstead Heath. Quando já estávamos no metrô nos dirigindo para lá, percebi que a estação seguinte à que iríamos descer era Golders Green.

Imediatamente lembrei-me de que Golders Green era o bairro no qual morou durante um tempo a banda Badfinger, justamente no período em que o grupo estava mais ligado à Apple. A casa onde residiam servia de espaço para ensaios, novas criações e arranjos. George Harrison frequentou esta casa quando estava produzindo o álbum Straight Up da banda, lançado em 1971.
George inclusive compôs e gravou uma canção “Going down to Golders Green”, um interessante rocker que até hoje continua oficialmente inédito. A letra, meio engraçada, conta que ele ia lá a trabalho, de limousine…

Ouça: Going Down To Golders Green (Finalized Edited Version) – George Harrison

Eu tinha Golders Green na memória por conta dessa canção e tinha também o endereço da casa utilizada pelo Badfinger por ser o nome do primeiro disco solo de Pete Ham – principal cantor, compositor e guitarrista do grupo – 7 Park Avenue. E mais, o segundo disco solo de Pete foi intitulado Golders Green. Esses dois álbuns são de material de ensaios e demos que ele fazia no estúdio montado na casa e foram ambos lançados postumamente. Pois bem, fomos para lá…

                                                                                                                                                                                   Muito fácil achar, pois logo na estação de metrô pudemos ver pelo mapa da região que a Park Avenue ficava a apenas uma pequena caminhada de distância.


Documentamos, com várias fotos, a rua e a frente da casa… não sem sentir um certo constrangimento, afinal, o que os moradores iriam pensar de um casal que de repente chega e começa a fotografar uma região a qual (a não ser por uma “beatle razão” que eles devem desconhecer…) não tem nada a ver com o circuito turístico da cidade?!

Aparentemente, comparando com a capa do álbum, a casa se mantém do jeito que era. O lugar é bonito, bem residencial, relativamente próximo de uma das extremidades do parque que buscávamos originalmente.
Encontrado o parque, lá fomos nós, a pé, para talvez a maior caminhada de todas as que empreendemos ultimamente, através dos bosques que levam a um dos maiores charmes desta cidade, a Kenwood House, em Hampstead Heath. Só para complementar, essa mansão e seus jardins foram utilizados como locação no filme Um Lugar Chamado Notting Hill, nas cenas em que Anna Scott (Julia Roberts) está gravando um filme de época, baseado em uma obra de Henry James… Muito legal!

Kenwood House - Hampstead Heath

Mais sobre “Living In The Material World”

Além dos formatos convencionais, em DVD e Blu-Ray, aqui na Inglaterra, teremos a edição DeLuxe, constituída de 2 DVDs (região 2), um Blu-Ray, um livro com 96 páginas e um CD com faixas nunca lançadas, que não será vendido separadamente. Tudo isso embalado em uma magnífica caixa, que pode funcionar como porta-retrato. Curioso para saber os títulos das faixas inéditas? Nós também, mas por enquanto nada foi oficialmente divulgado.

Assista ao trailer do documentário em http://www.georgeharrison.com/#/

George Harrison: Living In The Material World

Esta semana circularam, nos diversos jornais londrinos, notícias sobre o lançamento do documentário dirigido por Martin Scorsese – o premiado diretor de “Taxi Driver”, “New York, New York” e muitos outros filmes famosos – sobre o ex-beatle George Harrison, intitulado Living In The Material World (título de uma de suas músicas e do álbum lançado em 1973).

O lançamento, em Blu-Ray e DVD, previsto para 10 de outubro, coincide com o 10º aniversário da morte de George, ocorrida em 29 de novembro de 2001, aos 58 anos. Além do filme de Scorsese, de acordo com os jornais locais, outros eventos deverão lembrar o aniversário de morte do artista, como uma retrospectiva de sua vida e carreira no Grammy Museum, em Los Angeles, e ainda o lançamento de uma biografia escrita pela viúva Olivia Harrison, contendo material inédito que não foi utilizado no filme.


O documentário de Martin Scorsese, produzido por Olivia Harrison, promete revelar uma outra face de George, conhecido como o “quiet beatle”.
Por meio de depoimentos de seus parceiros e amigos (Paul, Ringo, Eric Clapton, Mick Jagger…), produtores (Phil Spector, George Martin…), esposas (Olivia e Pattie Boyd), além de cartas, filmes caseiros e outros materiais inéditos, uma imagem radicalmente diferente de Harrison deve emergir.
As revelações incluem a luta de Olivia, a viúva de George, para manter o casamento, tendo em vista o comportamento meio “mulherengo” do ex-beatle, confirmado pelos depoimentos da ex-mulher Pattie Boyd; sendo George sutilmente definido por Paul McCartney como “um homem saudável, que gostava de tudo que os homens gostam”.

 

 

Ao que parece, um George Harrison menos religioso e mais divertido, sagaz e sarcástico, intenso em suas amizades, bem como obsessivamente perfeccionista em relação à sua música deve ser revelado ao público em George Harrison: Living In The Material World. Vamos aguardar!