Liverpool: Casas onde tudo começou

Em meio à pandemia, uma diversão garantida tem sido rever os DVDs do Anthology dos Beatles. O problema é que aflora um certo saudosismo dos momentos especiais vividos quando não havia essa ameaça.

Um passeio sempre lembrado, mas que não mencionamos aqui ainda, foi a visita às casas onde viveram Paul McCartney e John Lennon, em Liverpool,  na época em que se conheceram e compuseram as primeiras canções.

Mapa da região habitada por John e Paul, nos anos 50
John Lennon em Mendips

Com certeza você já ouviu falar! Esses endereços são muito recorrentes: 20 Forthlin Road, a casa onde viveu Paul McCartney, e Mendips – na Menlove Avenue, no bairro de Woolton, a casa onde John viveu com a tia Mimi.

Paul McCartney na 20 Forthlin Road

Menos de uma milha separam as duas casas, mas socialmente pertenciam a mundos bem diferentes. A casa onde Paul morava, desde 1955, era parte de um conjunto habitacional da prefeitura, construído no pós-guerra, com aluguel subsidiado. A casa pertencente a Mimi e George, os tios de John, era de um padrão mais alto, semi-independente e com terreno maior.

Para conhecer o interior das casas, é necessário fazer a reserva com bastante antecedência, no site da National Trust https://www.nationaltrust.org.uk/beatles-childhood-homes

As outras excursões em Liverpool vão mostrar as casas por fora, apenas essa excursão, cujo micro-ônibus sai do hotel Jurys Inn, garante o acesso ao interior.

Só posso dizer que foi uma experiência fantástica. Inenarrável, como gosta de dizer o nosso amigo Erasmo Carlos.

20 Forthlin Road

A primeira casa visitada foi a de Paul McCartney: um sobrado modesto, geminado, adquirido pelo National Trust em 1995. O interior não pode ser fotografado, infelizmente. As fotos internas publicadas aqui foram pesquisadas na internet.

Entramos pela sala, onde fica o famoso piano em que foram compostas tantas canções memoráveis. Confesso que fiquei emocionado!

Sala de estar da casa de Paul

Percorremos toda a casa, com mobiliário da época; inclusive o backyard (quintal), eternizado na capa do álbum Chaos and Criation in the Backyard, de Paul McCartney.

Nas duas casas, podemos ver alguns objetos que realmente pertenceram às famílias dos dois beatles, mas boa parte é reconstituição, a partir de fotos da época.

Fotos de 1963, de Dezo Hoffmann, na casa de Paul
20 Forthlin Road
Forthlin Road

De lá, mais alguns minutos e chegamos em Mendips, a casa onde John Lennon cresceu. Esta casa foi comprada por Yoko, em 2002, e doada para o National Trust, para essa finalidade.

Mendips é uma casa de três dormitórios, construída em 1933. Fica em uma avenida larga, só com casas grandes e bonitas. Na Inglaterra as casas são muito parecidas.  

Menlove Avenue
Mendips

Entramos pela lateral; a visita começou pelo quintal.

Mendips – ao fundo, depois da cerca, fica Strawberry Fields

Sem fotografias fica difícil lembrar os detalhes. Passamos pela cozinha, salas, armário com porcelanas da tia Mimi; subimos para os quartos, no andar superior…

Sala de estar em Mendips

Especial atenção para o pequeno quarto de John Lennon. A cama fica ao lado da porta; um armário embaixo da janela, ao pé da cama; nas paredes, posters de Elvis, Rita Hayworth e Brigitte Bardot. Uma extensão do aparelho de som que ficava na parte de baixo da casa.

A visita termina muito bem: somos convidados a testar a acústica do pórtico ou hall de entrada da casa, com painéis de vidro no estilo Art Nouveau, onde a dupla Lennon e McCartney gostava de ensaiar. As paredes vazias e vidros criavam o ambiente ideal para reproduzir o “som de banheiro” que eles queriam – foi o que nos disseram…  Aprovado!!!

Wings em Osterley Park

Em nossa ida a Londres, em 2019, aproveitamos para visitar o Osterley Park and House, em Isleworth, no oeste londrino.

Osterley House

É uma região bonita, relativamente perto do aeroporto de Heathrow. No centro de um parque imenso há um palácio neoclássico, aberto a visitação, o qual é administrado pela organização National Trust.

Nosso interesse especial neste parque vem do fato de ter sido o cenário de capas de discos e fotos de divulgação de Paul McCartney e Wings.

Em 1971, a capa do Wild Life, o álbum de estreia do Wings, foi fotografada nesse parque.

Depois de tanto tempo, é impossível encontrar o local exato da locação, mas pudemos observar que a vegetação da foto é típica dos lagos situados dentro do parque. Nessa área são comuns os troncos que se lançam sobre a água, de forma bem selvagem.

Uma foto de divulgação do álbum (contida no Archive Collection) traz a banda sentada em um tronco baixo, todo torneado. Encontramos um tronco parecido, 48 anos depois!

Fotos do Wild Life – Archive Collection

Quando se trata de vegetação, fica difícil afirmar com exatidão os locais retratados, mas com certeza a capa do álbum Band on the Run, de 1973, foi fotografada nos Stables da Osterley House, na parede lateral do edifício.

A parede indicada é a que aparece na cultuada foto. No dia que visitamos, estava obstruída, por isso não conseguimos tirar uma selfie a la McCartney.

Nos palácios britânicos, ao lado da mansão principal costumam ficar os estábulos (Stables).  Em Osterley, atualmente, os estábulos abrigam um café/restaurante para os visitantes, com mesas internas e ao ar livre, e também uma loja de presentes.

Osterley Stables

Este é um excelente passeio, se você estiver em Londres por mais tempo e quiser se aventurar e conhecer locais fora dos endereços consagrados.

Osterley Station – zona 4

Penina

Penina, Penina,
Penina, one night. I’ve been to Aldebaran,
I had a good time there.
Then I came to Penina
And found good friends (…)

Você conhece a canção Penina de Paul McCartney, gravada originalmente pela banda portuguesa Jotta Herre e posteriormente por Carlos Mendes?
Em junho de 2019, tivemos a oportunidade de conhecer o local em que a música foi composta, em dezembro de 1968.

Paul estava de férias na Praia da Luz, no Algarve, hospedado na Quinta das Redes, onde também estava morando Hunter Davies, o autor da biografia autorizada dos Beatles.
Consta que Paul teria decidido ir até a discoteca Sobe e Desce, na praia de Carvoeiro, no entanto, no caminho, percebeu que só tinha libras e decidiu parar no Hotel Penina, em Alvor – Portimão, apenas para trocar libras por escudos.

Neste dia, o grupo Jotta Herre, formado por Aníbal Cunha, Rui Pereira, Carlos Pinto e José Carlos Flamínio, estava se apresentando no Penina. Durante o intervalo da apresentação, percebendo a presença de Paul e sua namorada Linda na recepção do hotel, o convidaram para tocar com eles. Era 1h30 da madrugada quando Paul começou a tocar piano e depois bateria com a banda, e foram até as 3h30. Tocaram vários standards e, no final da noite, Paul quis dar um presente ao grupo de músicos do Porto. Sentou-se ao piano e em pouco tempo compôs Penina.

Em nossa passagem pelo Algarve, conhecer o Hotel Penina era uma prioridade. É um hotel bem grande, que teve seus dias de glória, pois nos anos 60 era um dos únicos hotéis de luxo na região, contando inclusive com um belo campo de golf.

Ao chegar à recepção, fomos muito bem atendidos e logo nos mostraram o piano onde a canção foi composta, atualmente em exibição no saguão do hotel.

Vladimir e o Sr. Carlos

Conversamos bastante com o Sr. Carlos, tiramos várias fotos… Foi bem legal.

Hotel Penina
O famoso piano


De lá – continuando o passeio – fomos até a Praia da Luz, procurar a Quinta das Redes que hospedou McCartney.

Quinta das Redes

Cartão de Paul para Hunter Davies


A praia é muito linda e bastante procurada pelos turistas. A Quinta fica bem em frente à praia, no local de uma antiga fábrica de sardinhas, e provavelmente sofreu muitas modificações desde os anos 60. Além dos apartamentos, há um restaurante chamado A Fábrica, atualmente.

Praia da Luz – Lagos

Na parte interna do álbum McCartney há várias fotos tiradas nessa praia. Em algumas fotos alternativas, inclusive, é possível ver o rochedo na ponta da enseada.

Praia da Luz

Rye – UK

Talvez inspirado pelo MACCA, que está lançando NEW, um novo álbum só de músicas inéditas, depois de um intervalo de seis anos… volto à ativa para comentar um passeio que realizamos para a cidade de Rye, em Sussex, na costa sudoeste da Inglaterra, em maio de 2012.

Hog Hill Mill Studios
Hog Hill Mill Studios


Além de conhecer essa pequena cidade com muitos séculos de história, nosso objetivo era, também, tentar ver onde fica a famosa fazenda e estúdio de Paul McCartney na região.

Em um carro alugado, rumamos para Peasmarsh, um vilarejo próximo a Rye – uma área mais residencial, com grandes propriedades. Logo encontramos a Starvecrow Ln, uma estradinha arborizada onde, em algum ponto que não conseguimos identificar com certeza, fica a entrada para a fazenda de McCartney.

Starvecrow Ln

Realmente, o cara se esconde por ali! Percorremos toda a estrada, prestando a maior atenção. Esperávamos encontrar um lugar todo murado, do tipo “segurança máxima”. Nada disso! Só chácaras… bosques… barulhinho de água. O acesso a Waterfall Estate (Woodlands Farm) ficou para uma próxima vez! Mas só por curtir a região, sentir o clima, já valeu!

De lá, fomos conhecer a parte antiga da cidade, torcendo para encontrar Paul dando uma voltinha por ali! Macca não apareceu, é claro, mas a cidade é de encher os olhos!

Passamos um dia maravilhoso, percorrendo a pé as ruas medievais de Rye. Tudo muito bem preservado, pronto para receber o turista. A praia (com areia!) fica a uma pequena distância.

Paul reside boa parte de seu tempo nessa propriedade de Rye, há muitos anos. Imagine quantas vezes Paul, Linda e os filhos foram vistos caminhando por essas ruas, fazendo compras, almoçando em um dos muitos restaurantes!

No começo dos anos 90, Paul e Linda (fotos acima) participaram ativamente de uma campanha para salvar o Rye Memorial Hospital, fechado em razão de corte de recursos do NHS (National Health Service).  “Think globally act locally”, Paul colocou em prática o lema que defendia. Em 1995, comemoraram a vitória do movimento, com a reabertura do hospital.

No “Anthology” temos várias imagens de Paul, George e Ringo juntos, trabalhando nesse estúdio de Paul em Rye.

Para quem está interessado em conhecer mais sobre a história de Rye, sugiro o site: http://www.viajarpelomundo.com/2012/08/rye-era-uma-vez-uma-cidade-beira-mar.html

Quanto ao novo disco de Paul, em breve posto um comentário, porque por enquanto estou na fase de degustação… e curtição. Sem palavras!

My Valentine

O termo “pop” já há muitos anos passou a ser utilizado de forma pejorativa para (des)qualificar trabalhos de artistas, dando-lhes uma conotação de obras menores sob o ponto de vista artístico, apenas voltadas para o sucesso imediato. Paul McCartney foi e (em certa medida) continua sendo um dos principais alvos dos críticos nesse sentido.
Mas está mais que na hora desses formadores de opinião passarem a encarar os trabalhos de Paul com uma visão menos tacanha e míope.

Para muitos Paul é “o mais pop dos ex-Beatles”, não importa o que ele faça. McCartney pode compor um Liverpool Oratorio, pode compor música para balé (Ocean’s Kingdom); pode fazer experiências com música eletrônica (Firemen), pode gravar um álbum de standards americanos em sua maioria pouco conhecidos, como o caso de Kisses on the Bottom, e lá vem o crítico de plantão anunciar o mais “pop” dos Beatles… bla bla bla…
Muito mais importante que discutir o fato de Paul ser ou não o mais pop, é constatar que o músico tem provado ao longo de toda a sua carreira um intenso conhecimento e domínio de diversas formas de manifestação musical.
Para Macca, não existem fronteiras de qualquer natureza entre as formas de expressão musical. Música boa é música boa, seja ela rock, folk, R&B, reggae, balada, jazz, blues, etc…


Característica necessária a um músico Pop é a de encontrar o seu “nicho” e se estabelecer em sua zona de conforto ao decidir os passos a serem dados. McCartney está longe de ser um músico estabelecido em alguma zona de conforto, Kisses on the Bottom é mais uma demonstração disto. Repertório não desconhecido, mas pouco visitado por ele, além de grande perspectiva de comparações com monstros sagrados como Sinatra, Dean Martin, Julie London, Nat King Cole e tantos outros que transformaram essas canções em standards. Trabalhar com músicos profissionais de jazz, aqueles que “conhecem” cada nota que devem tocar. Limitar-se a ser apenas um “crooner”, ou seja, cantar sem estar “protegido” por qualquer instrumento.
Esses foram alguns dos desafios que Paul enfrentou ao decidir executar este álbum. O resultado prático? Excelente. O tratamento dado a cada canção é intimista, sóbrio e extremamente elegante.

O grupo de músicos que acompanha Paul é excepcional e inclui, entre outros, Diana Krall (ao piano, em todas as faixas, além dos arranjos) e John Pizzarelli. Conta ainda com algumas participações especiais, particularmente nas canções compostas por Paul: Eric Clapton, na faixa mais importante do CD, “My Valentine”, em um delicado e lindo solo de violão (Eric também empresta seu talento na gravação de “Get Yourself Another Fool”), e Stevie Wonder, com uma maravilhosa gaita em “Only Our Hearts”. O fato de Diana ser casada com Elvis Costello certamente facilitou o desenvolvimento dos trabalhos de escolha de repertório, arranjos e produção do disco.


No mais, a participação de Eric Clapton encerra de uma vez por todas os rumores (sem qualquer fundamento) de que Clapton e McCartney não se suportam!!

Na impecável performance ao vivo no Capitol Studios (iTunes em 9 de fevereiro), Joe Walsh (do grupo Eagles e atual cunhado de Ringo Starr) substitui Clapton e Abe Laboriel Jr. (baterista da atual banda de Paul e filho do baixista Abraham Laboriel) faz um preciso vocal de apoio em algumas canções.
Certamente Kisses on the Bottom é mais um trabalho a comprovar que Paul é o mais pop dos Beatles. Paul já esteve em 1º lugar nas paradas de sucesso de rock diversas vezes; de clássicos, algumas vezes.  Provavelmente, em breve também estará no topo das paradas dos discos de jazz.
So… Paul McCartney é seguramente o mais pop dos Beatles. Mas porque aquilo que ele faz se torna popular. Assim como os Beatles foram o grupo mais pop da história da música.

P.S. Bendita Nancy Shevell, por deixar o Macca tão inspirado! Abaixo, cantando “My Valentine” na cerimônia de entrega do Grammy 2012.

Kisses on the bottom

Enquanto aguardamos o lançamento do novo CD do Paul, resolvemos mostrar aqui as mesmas canções gravadas para o disco nas versões originais.
Quando Paul participou em um programa de TV em homenagem a Frank Loesser ele contou que era um hábito de sua família sentarem-se todos em uma sala (tios, primos, irmãos…) particularmente nas reuniões de fim de ano, para cantarem juntos as canções que eram repertório dos mais velhos.
Nesse show Macca canta “On A Slow Boat To China”. Ele não gravou esta para o novo disco, mas incluiu outras duas canções de Loesser.
A escolha das músicas para o álbum Kisses on the bottom está baseada nessas memórias que Paul cultiva desde a infância.
Embora a grande maioria das canções tenha sido gravada por vários cantores e cantoras, procurei selecionar as gravações que mais parecem ser aquelas ouvidas pelos pais e tios de Macca, ou seja, as primeiras a serem executadas em rádio nos anos 30 e 40. (Clique nos links abaixo dos títulos das faixas para ouvir.)

As faixas:

I’m Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter (Fred E. Ahlert / Joe Young)

Im Gonna Sit Right Down And Write Myself A Letter – Boswell Sisters

Composta em 1935 e, talvez, ao lado de Bye Bye Blackbird e It’s Only A Paper Moon, sejam as mais conhecidas canções do disco.
É dela inclusive que sai título do CD:

I’m gonna sit right down and write myself a letter
And make believe it came from you

I’m gonna write words oh so sweet
They’re gonna knock me off my feet
A lotta kisses on the bottom
I’ll be glad I got ‘em

I’m gonna smile and say
I hope you’re feeling better
I’ll close with love the way you do
I’m gonna sit right down and write myself a letter
And I’m gonna make believe it came from you

I’m gonna write words oh so sweet
They’re gonna knock me off my feet
A lotta kisses on the bottom
I’ll be glad I got ‘em

I’m gonna sit right down and write myself a letter
And I’m make believe it came from you
Oh yeah
I’m gonna make believe it came from you

Já foi regravada por muita gente boa a partir dos anos 50: Frank Sinatra, Dean Martin, Nat King Cole, etc…e, mais recentemente, por Madeleine Peyroux em uma deliciosa versão em seu primeiro disco.
Fats Waller fez a primeira gravação, apenas ao piano. As Boswell Sisters gravaram com a letra completa, inclusive os primeiros versos que anunciam o porquê da decisão do cantor de escrever uma carta para si mesmo!

Home [When Shadows Fall] (Peter Van Steeden / Jeff Clarkson / Harry Clarkson)

Home (When Shadows Fall) – Louis Armstrong & His Orchestra

Primeiramente gravada por Rudy Valle & his Connecticut Yankees, em janeiro de 1932.
Louis Armstrong a gravou em seguida, ainda em 1932, e mais tarde a regravou no início dos anos 50.

It’s Only a Paper Moon (Harold Arlen / E. Y. Harburg / Billy Rose)

Its Only A Paper Moon – Nat King Cole

Nat King Cole a gravou entre 1944 e 1945 e depois a regravou anos mais tarde.
Essa canção é uma das mais regravadas entre as escolhidas por Paul. Antigas ou mais recentes, existem dezenas de interpretações. Uma interpretação de Harry Nilsson aparece nas faixas extras da reedição de 1988 de seu LP A Little Touch Of Schmilsson In The Night – álbum só de “Standards” lançado originalmente em 1973.

More I Cannot Wish You (Frank Loesser)

More I Cannot Wish You – Mabel Mercer

Composta em 1950 para o musical da Broadway “Guys and Dolls”.
Esta é certamente uma das mais obscuras entre as canções escolhidas por Paul; não existem muitas regravações dela. Frank Sinatra a cantou, junto com sua filha Nancy, Dean Martin e sua filha Gail, no Dean Martin Christmas Show de 1967.

The Glory of Love (Billy Hill)

The Glory Of Love – Benny Goodman with Helen Ward

Esta é a canção mais famosa de Billy Hill. Benny Goodman, com vocal de Helen Ward, a lançou em 1936, e ela foi gravada por vários cantores a partir dos anos 50, incluindo Peggy Lee e Dean Martin.

We Three (My Echo, My Shadow and Me) (Sammy Mysels / Dick Robertson / Nelson Cogane)

We Three (My Echo My Shadow And Me) – Frank Sinatra

Realizada por Sinatra, entre 1940 e 1942, acompanhado por Tommy Dorsey e sua Orquestra, esta gravação só esteve disponível em discos de 78 rpm até os anos 80, quando então todas as sessões de Sinatra com Tommy Dorsey foram compiladas e reeditadas em vinil e CD.

Ac-Cent-Tchu-Ate the Positive (Harold Arlen /Johnny Mercer)

Ac-Cent-Tchu-Ate The Positive – Andrews Sisters & Bing Crosby

Composta em 1944, esta canção foi sucesso em 1946 com Bing Crosby e também com as Andrew Sisters.
A letra mostra que dar mais valor às boas coisas (ser otimista) pode ser um dos segredos para a felicidade. Acho que Paul se identifica muito com a mensagem dela!!

Always (Irving Berlin)

Always – Deanna Durbin

Irving Berlin escreveu esta música como um presente de casamento para sua esposa, em 1925.
Macca gosta dessas homenagens! My Valentine foi escrita para a Nancy, não foi?
Gravações de sucesso ocorreram a partir de 1942, quando ela foi utilizada em alguns filmes.
Harry Nilsson também a gravou para seu LP A Little Touch Of Schmilsson In The Night, de 1973. Esta que coloco aqui, de Deanna Durbin, é de 1944 e do filme “Christmas Holiday”, com Gene Kelly.

My Very Good Friend The Milkman (Harold Spina / Johnny Burke)

My Very Good Friend The Milkman – Fats Waller

Composta em 1935 e lançada originalmente por Fats Waller.

Bye Bye Blackbird (Ray Henderson / Mort Dixon)

Bye Bye Blackbird – Gene Austin

Composta em 1926 e originalmente gravada por Gene Austin, esta canção tem dezenas de diferentes interpretações e arranjos, inclusive com sensíveis adaptações na letra. Paul optou por um arranjo mais lento (como o da Julie London) ao contrário de Ringo, em seu álbum Sentimental Journey de 1970, que gravou um arranjo bem acelerado (com muito banjo), escrito por Maurice Gibb (dos Bee Gees) então muito amigo de Ringo.
Muito popular também para as gerações mais novas, ela teve interpretações de Joe Cocker, Trini Lopez, Ricky Lee Jones, entre outros.

Get Yourself Another Fool (Haywood Henry / Tucker)

Get Yourself Another Fool – Charles Brown

Lançada originalmente por Charles Brown, no início dos anos 50, esta canção teve também grande repercussão quando regravada por Sam Cooke.

The Inch Worm (Frank Loesser)

The Inchworm – Danny Kaye

Composta em 1952, esta canção foi originalmente gravada por Danny Kaye, para o filme “Hans Christian Andersen”.
Mary Hopkin a gravou, com produção de Paul McCartney, para o seu primeiro LP lançado pela Apple, em 1969.

(I’d Like to Get You on a) On A Slow Boat To China (Frank Loesser)

On a Slow Boat to China – Kay Kyser

Esta canção foi composta em 1947 e gravada inicialmente por Kay Kyser. Mais tarde foi regravada por diversos outros cantores.
Embora não esteja no novo disco, incluímos aqui a gravação original de Kay Kyser, pois Paul a interpretou ao vivo em 2009, em um programa especial de homenagem a Frank Loesser.

James McCartney ao vivo

Ontem fomos assistir ao show de James McCartney no Barfly, em Camden Town.
Barfly é um pub bem charmoso, que possui no andar de cima uma sala especial, com um palco para pequenos shows. Calculo que, bem acomodados (todos de pé), o salão pode receber até umas 80 pessoas. O serviço de bar funcionando, possibilitou tomarmos nosso pint enquanto aguardávamos o início da apresentação. E tivemos que esperar bastante… A abertura da sala de shows estava programada para as 19h mas o show de James só começou às 22h.

Após uma curta apresentação de Ben Goddard, uma banda iniciante (com boas canções, por sinal…), entram James McCartney e seu grupo.

Ben Goddard e sua banda

James tem músicos de apoio bastante bons, particularmente o baterista. As versões ao vivo de suas músicas são carregadas de um peso bem maior do que as gravações oficialmente lançadas. Talvez ele queira se distanciar das inevitáveis comparações com o pai, tornando sua performance bem mais heavy.

Em alguns instantes, não dá para negar que nele está presente o sangue do velho Macca. Na ótima canção “I only want to be alone” é difícil imaginar que o refrão não tenha a contribuição do pai. Afinal, como Maurício Kubrusly muitos anos atrás descreveu, Paul faz canções “esparadrapo”: você ouve e ela “gruda” imediatamente. O refrão dessa música tem essa mesma característica.

James se encaminha para também ser um multi-instrumentista – passeia por guitarra, violão e teclado com bastante intimidade.

Falta ainda a James McCartney desenvoltura no palco. Muito tímido e contido, ele no máximo anuncia o título das canções. Nada de sorrisos ou qualquer tipo de interação com a plateia. Nem os nomes dos músicos que o acompanham (e muito bem) são anunciados.

Para dar suporte a sua voz, ainda insegura, a banda poderia proporcionar um apoio de backing vocal, especialmente nas canções mais pesadas.

Mas deve ser muito difícil ser filho de um dos maiores gênios da música de nossos tempos.  James está pagando esse preço, mas acredito que trilhando um caminho correto e seguro. Pequenas apresentações, low profile total.

Um fato, porém, poderia colocar a perder o foco na performance da banda.

Mal iniciado o show entram na platéia Paul, Stella e Mary McCartney, juntos com Rusty Anderson da atual banda de Paul. Muito animados – sobretudo Paul e Stella – logo se fizeram notar, com os “huhus” bem típicos de Paul.

Não há como evitar desviar o olhar do palco em uma situação dessas, especialmente quando estão a menos de dois metros de você…

Huhu!!!!

Assistir ao show de James já seria um prazer enorme. Tendo ao meu lado o velho Macca e suas filhas torna a experiência muito mais que memorável.

Apesar de Stella tomar uma atitude de proteção ao pai, tentando evitar as fotos, consegui algumas para documentar esse momento.

Autografando nosso CD

Macca no O2

Durante meus anos de trabalho dentro de empresas por muitas vezes brinquei com os colegas que o melhor dia da semana era a segunda-feira, contrariando as caras feias normais desses dias. Afinal, a segunda-feira é o dia da semana mais longe da próxima segunda-feira… Os londrinos tiveram nesta segunda-feira uma outra importante razão para concordar comigo: Paul McCartney no O2!


E o velho Macca fez com incrível competência o seu papel.
Show marcado para as 20:00h. Tomamos o trem por volta das 18:00 e duas conexões depois estávamos já no O2, às 18:30h.
Depois de um pequeno lanche com nosso filho Daniel, sem qualquer correria ou afobamento – dentro do complexo que é o O2 há dezenas de restaurantes – fomos para nossos lugares na Arena. Ótimos, bem de frente para o palco.
Enquanto aguardávamos, os telões mostravam uma montagem muito criativa de fotos, desenhos e vídeos sobre a carreira de Paul, tudo com uma trilha sonora especial também de trabalho dele.

Tempo suficiente também para admirar o espaço da Arena e a organização primorosa.

Com pequeno atraso, aproximadamente às 20:20h, entram Paul e sua banda e começa o show: Hello Goodbye.
Quando assistimos à apresentação de Crosby e Nash, comentei a respeito do set list. Neste tipo de show (lugar amplo e para plateias grandes) é inevitável que Paul fixe seus clássicos como repertório indispensável (Let it be, Yesterday, Blackbird, Hey Jude, Lond and Winding Road, Band on the run, Jet, Eleanor Rigby, Live and let die…).

Mas ele incluiu algumas novidades nesta temporada de shows (Junior’s farm, The night before, Come and get it, The Word – All you need is love) e recolocou outras não tão frequentes (I will, Meddley final do Abbey Road), de tal forma que o show ficou maravilhosamente atraente, mesmo para quem já viu o Macca por várias vezes.
A banda é ótima e os anos todos que tem de convívio no palco garantem perfeita unidade. Não são uma banda cover dos Beatles (ou Wings). Paul claramente não deseja isso. Muitas liberdades são tomadas pela banda na execução das canções. Os solos (inclusive os executados pelo próprio Paul), algumas passagens dos vocais e bateria não são os mesmos, propiciando pequenas visões de como Paul encara sua música e de como ele é capaz ainda de se entregar a ela como criador. Paperback writer, I’ve got a feeling, The Word mostram pequenas explorações de formas de interpretação alternativas.

Quanto ao roteiro do show, Paul realmente tem um script definido. Talvez esse seja um dos pontos que mostram seu incrível profissionalismo e uma das razões que conduzem a um show perfeito. A fala de introdução da homenagem a George, a explicação sobre Blackbird, a regência do coro do público no final de Hey Jude poderiam até ser pré-gravadas. Está tudo incorporado a um tipo de charme que tem a sua apresentação. Se ele resolvesse mudar algo relativo a isso tudo, logo viriam comentários do tipo (como diria o saudoso humorista José Vasconcelos): – Ué, ele não fez aquilo! – e então ele continua fazendo, e agradando.
E ainda vou descobrir a razão de, durante o tributo ao George (Something), dezenas de fotos de George serem mostradas nos telões, enquanto no tributo a John (Here today) apenas o planeta Terra permanecer girando no fundo do palco!
Ainda tivemos uma surpresa. Antes de iniciar a apresentação de Get Back, Paul chama um convidado especial: Ron Wood dos Rolling Stones. Ron toca com a banda e participa dos agradecimentos junto com o grupo, ao final do primeiro bis.


Se alguém me pedisse para definir em poucas palavras ou poucos minutos as razões pelas quais eu gosto tanto de Paul McCartney, talvez isto pudesse parecer difícil. Mas eu lhe pediria apenas para ouvir o meddley final do Abbey Road: Golden Slumbers – Carry that weight – The end. Em apenas 5:18 minutos temos, na minha opinião, o melhor resumo da genialidade e versatilidade musical de McCartney. Terno e cândido, grande vocalista, multi-instrumentista, agressivo roqueiro, excepcional arranjador e ótimo letrista:

IN THE END THE LOVE YOU TAKE

IS EQUAL TO THE LOVE YOU MAKE

Thanks Macca

Grandes encontros

A Livraria e Galeria de Arte Indica, em Mason’s Yard, nº 6, em Mayfair, teve história para contar. Foi lá, em 9 de novembro de 1966, que John foi apresentado por John Dunbar à artista japonesa Yoko Ono, então com 33 anos, na véspera da abertura de sua exposição “Unfinished Paintings and Objects”.

Inicialmente, a livraria ocupava o andar térreo do prédio e a galeria de arte ficava no subsolo (basement). No verão de 1966 a livraria se mudou para o nº 102 de Southampton Row, e a galeria de arte passou a ocupar também o térreo.

John Dunbar (primeiro marido de Marianne Faithfull), Peter Asher (irmão de Jane Asher) e BarryMiles (escritor, autor da biografia de Paul McCartney, Many Years From Now) eram os proprietários da Indica. Nos primeiros tempos Paul McCartney ajudou financeiramente a manter a galeria.

Os três sócios da Indica

De acordo com o livro Many Years From Now, foi também na Indica, em março de 1966, que John encontrou o embrião da letra de Tomorrow Never Knows, a frase: “Whenever in doubt, turn off your mind, relax, float downstream”, a qual ele leu em um livro que achou na prateleira – The Psychedelic Experience, de Timothy Leary – enquanto procurava uma obra do filósofo alemão Nietzsche.
Visitamos o local há poucos dias.

A Mason’s Yard é um tipo de vila (ou pátio), que sai da Duke Street –St James (cuidado, porque no centro de Londres há outra Duke Street, em Marylebone). A região é muito charmosa, cheia de galerias de arte. No lugar onde ficava a Indica agora há a galeria Stephen Ongpin & Guy Peppiatt Fine Art. Anteriormente se chamava James Hyman Fine Art.

Nessa vila, no nº 13, bem próximo da Indica, havia a casa noturna Scotch of St James Club, muito frequentada pelos artistas da época, inclusive Paul. Atualmente, no endereço funciona o Directors Lodge Club.

A Mason’s Yard tem duas entradas, uma bem estreita, apenas para pedestres (abaixo), ao lado do pub Chequers Tavern e outra para carros (acima). É um lugar muito interessante!


Não muito depois de John Lennon encontrar Yoko Ono, McCartney conheceu a americana Linda Eastman, no Bag O’Nails Club, em 15 de maio de 1967. Ela estava lá com os integrantes do grupo Animals. Paul se interessou logo por ela, e a convidou para ir com ele e seus amigos ao Speakeasy, um clube em Margaret Street, para onde foi todo o grupo. De acordo com depoimentos de Paul e Linda, o encontro ficou marcado pela música de Procol Harum, A Whiter Shade of Pale, que ouviram pela primeira vez no Speakeasy e gostaram muito, ficando curiosos para saber quem estava cantando. (É, essa música realmente marcou a nossa geração!)

O Bag O’Nails Club ficava na Kingly Street nº 9, uma rua paralela à Carnaby Street, no Soho. Em nossa visita ao endereço, pudemos ver que atualmente ali está estabelecido o Miranda Club, um clube privado que, de acordo com seu site, ainda mantém algum vínculo com o antecessor ilustre. Na entrada há duas placas dando conta da importância histórica do lugar, uma referente ao encontro de Paul e Linda e a outra informando que foi nesse local que Jimmi Hendrix Experience fez sua primeira apresentação no Reino Unido, em novembro de 1966.

Curiosamente, apenas em 1968 os relacionamentos de John e Yoko e de Paul e Linda efetivamente engrenaram. Em 29 de fevereiro de 1968, Yoko separou-se de Tony Cox e, segundo consta, começou a perseguir John Lennon. Linda teve um segundo encontro com Paul poucos dias depois, na festa de lançamento do disco Sgt Pepper’s, mas depois eles só voltaram a se encontrar em 13 de maio de 1968, em New York, no evento de lançamento da Apple nos Estados Unidos.

E para complementar, já que falamos no Bag O’Nails, perto do Palácio de Buckingham almoçamos em um tradicional pub com esse mesmo nome. É provável que o pub e o club pertencessem aos mesmos donos, na época. Muito bom.

Just Married

Sir Paul e Nancy Shevell casaram-se na tarde de hoje (data em que John Lennon faria 71 anos), no Marylebone Register Office, com a presença de 30 convidados, entre eles Ringo Starr.


Mais tarde, na recepção em sua casa na Cavendish Avenue, Paul deverá cantar uma canção inédita, dedicada a Nancy. Um presente e tanto, não acham?

 Sorte também dos fãs que esperavam em frente ao cartório e foram saudados por Macca e sua esposa.